Translate

Monday, June 11, 2012

BIOGRAFIA: COCTEAU, Jean; Jean Clement Eugène Cocteau (1889-1963).



BIOGRAFIA: COCTEAU, Jean; Jean Clement Eugène Cocteau (1889-1963).

O artista multimídia extraordinário, designer gráfico, poeta, escritor talentoso e importante cineasta experimental, nasceu em Maisons-Lafitte, cidade próxima à Paris. Cocteau tornou-se muito conhecido desde que escreveu A Lâmpada de Aladim [La Lampe d'Aladin] (1909) e, mais ainda, depois que escreveu o libreto para Parada [Parade] (1917), obra com a música de Eric Satie e coreografia de Léonid Massine, levada aos palcos parisienses com a cenografia, figurinos e a cortina de cena criada por Pablo Picasso para os Balés Russos. Essa encenação representou para seus autores a imediata fama de escândalo e foi o primeiro contacto de Picasso com os cenários e figurinos para balé. Cocteau se tornou o principal mentor do Grupo (Francês) dos Novos Jovens [Les Nouveaux Jeunes] (v.), que logo ficou conhecido como o Grupo (Francês) dos Seis [Groupe des Six] (v.).

O primeiro balé criado pelo poderoso grupo intelectual de Gays parisienses, liderado por Jean Cocteau foi O Espectro da Rosa, com música de Reynaldo Hahn, baseada no Convite à Valsa, de Weber, orquestrada por Berlioz; com coreografia de Michel Fokine, cenários e figurinos de Léon Bakst (Aka Leon Bakst, 1866-1924), apresentado pelos Ballets Russes da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1911). Este balé foi reapresentado na Temporada Americana dos Balés Russos (1916-1917).

Cocteau escreveu o libreto para o balé O Deus Azul [Le Dieu Bleu] (1912), com música de Reynaldo Hahn, coreografia de Michel Fokine, cenários e figurinos de Léon Bakst para os Ballets Russes da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1912).

Erik Satie compôs a música para o balé Parada [Parade], manifesto tri-dimensional Cubista de Jean Cocteau e Pablo Picasso, apresentado com coreografia de Léonid Massine. A cortina de cena para o balé Parada [Parade] e os desenhos de cenários e figurinos foram de Pablo Picasso, para a Parada apresentada nos palcos parisienses pelos Ballets Russes (Paris, 1917).


Outra obra de Cocteau foi O Boi no telhado [Le Boeuf sur le toit] (1920), com música de Darius Milhaud, com inspiração e nome brasileiro (traduzido; v. a discussão de plágio, na biografia de Darius Milhaud), encenada pela Companhia de Comédia do Teatro dos Campos Elísios.


Poulenc compôs a música para a Farsa em um ato, Os Noivos da Torre Eiffel [Les Mariées de la Tour Eiffel] (1921), de Jean Cocteau, para a obra musical conjunta do Grupo dos Seis. A obra incluiu 1. La Baigneuse de Trouville [A Banhista de Trouville] e 2. Discours du général [Discurso do General], farsa apresentada com os Balés Suecos com a coreografia de seu principal bailarino, Jean *Borlin, com cenários de Irene Lagut, figurinos e mascaras gigasntescas de Jean Hugo e Valentine Gross, apresentada no Teatro dos Campos Elísios (Paris, 18 jun., 1921). Henri Béraud publicou comentários sobre o espetáculo: Théâtre des Champs Elysées - Les Mariés de la Tour Eiffel, no jornal Mercure de France (15 jul., 1921). Outras músicas para o mesmo espetáculo, foram compostas por Georges Auric, D. Milhaud e Germaine Tailleferre. Essa obra com texto e locução de Cocteau, ficou entre a tragédia clássica e divertida revista musical, espetáculo vanguardista que representou o ponto alto na carreira dos Balés Suecos, companhia de Rolf de Maré.

Outro balé foi Romeu e Julieta [Romeo et Juliette] (1924), adaptação de Cocteau da tragédia de autoria de William *Shakespeare, levada aos palcos parisienses pelos Balés do Conde Cecil de Beaumont, nos eventos ditos, As Noites de Paris [Les Soirées de Paris], nome em homenagem à revista homônima editada pelo poeta Guillaume Appolinaire (1912-1914).


Jean Cocteau foi o idealizador do balé para O Trem Azul [Le train Bleu] (Paris, 1924), encenado pelos Ballets Russes da Companhia Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1909-1929), para o qual Picasso reproduziu na cortina de cena seu desenho Duas mulheres correndo sobre a praia [Deux femmes courant sur la plage] (Paris, 1921). A música foi de Darius Milhaud, do Grupo dos Seis, a coreografia de Bronislava Nijinska, o cenário de Henri Laurens, os figurinos de Mlle. Chanel, as marqueteries assinadas por René Prou e os acessórios de René Lalique, para o trem que partiu de Paris na direção da Côte d'Azur. Os viajantes ávidos de prazeres esperavam ansiosos a visão da terra prometida: as praias do Mediterrâneo.


A música de Arthur *Honegger, composta para harpa e moinho de vento (dez., 1922), foi para a peça Antigona, Tragédia em três atos de Sófocles, adaptada por Cocteau, que estreou em Paris (jan., 1924), re-encenada posteriormente (Paris, fev., 1927), sendo que o prefácio da peça foi dedicado a Vaura pelo próprio compositor (Barème, set., 1927). A peça foi apresentada com cenários e figurinos de Pablo Picasso no Teatro do Ateliê [Théâtre de L'Atelier], com Genica Atanasiou (Antígona) e Charles Dullin (Créon), conforme foi publicado na revista Feuilles Libres [Folhas Livres] (jan., 1923). Outro artigo publicado sobre Antígona, de autoria de Paul Bertrand, foi Au Théâtre du Jorat: Antigone [No Teatro do Jorat: Antígona], publicado na revista Le Ménestrel [O Menestrel (Paris, 21 ago., 1925). Antigona estreou no Teatro da Moeda [de la Monnaie] (Bruxelas, 1927), com E. Colonne (Créon), Mlle S. Baillard (Antígona), Mlle E. Deulin (Ismène), Mme M. Gerday (Eurydice) e M. Yvanovitch (Tirésias), sendo o regente da orquestra Corniel de Thoran.

Outra obra de Cocteau foi o libreto para O Homem Jovem e a Morte [Le Jeune Homme et La Mort] (1946), encenado sob a direção de Serge Lifar pelo Balé do Teatro dos Campos Elíseos. Cocteau criou Fedra [Phèdre] (1950), encenado pelo balé do Teatro da Ópera de Paris; A Dama e o Unicórnio [La Dame a La Licorne] (1953), que estreou nos palcos alemães com o Balé do Teatro da Ópera de Munique. Além dos libretos, Cocteau foi o criador de inúmeros cenários destinados às suas encenações para balé, como Fedra e A Dama e o Unicórnio, encenado pelos Balés da Ópera de Paris (1943); e O Amor e seu Amor [L'Amour et son Amour], encenado pelo Balé do Teatro dos Campos Elíseos (Paris, 1947).

Cocteau participou das vanguardas parisienses mais avançadas mundialmente, obtendo grande sucesso pessoal, artístico e social. Cocteau, juntamente com Salvador Dali e Luís Buñuel, tornou-se um dos mais frequentes convidados das recepções do Visconde e da Viscondessa Charles de *Noailles (v. biografias), personalidades da alta sociedade que se tornaram mecenas das artes francesas. O casal patrocinou os primeiros filmes de S. Dali, L. Buñuel e J. Cocteau. Cocteau tornou-se diretor cinematográfico: o primeiro filme de Cocteau, O Sangue de um poeta [Le sang d'un poete], foi patrocinado pelo Visconde de Noailles (Fr., 1930, 60'). O argumento foi da fantasia artística de Cocteau no filme no qual atuaram Lee *Miller, Enrico Rivera e Jean Desbordes; apesar desse filme ser menos conhecido do que os primeiros filmes de S. Dali e L. Buñuel, pode ser colocado no mesmo elevado patamar de valor artístico.

Cocteau contratou Georges Auric, Arthur Honneger, Darius Milhaud, Erik Satie e Igor Stravinsky, para comporem as músicas para várias de suas poesias, óperas, balés e filmes. Cocteau opôs-se públicamente à música da considerada da velha geração, que ele considerou como representada por Claude *Debussy e Maurice *Ravel. Entre as músicas, destacamos a que A. Honegger compôs para voz e piano, apresentada com as Seis Poesias [Six Poésies] (1920-1923): 1. O Negro [Le Nègre] (maio); 2. Locuções [Locutions] (maio); 3. Lembrança da Infância [Souvenir d'enfance] (jun., 1920); Ex-voto (junho, 1923); Uma dançarina [Une danceuse] (jun., 1923); 6. Senhora [Madame] (jan., 1923). Estas canções foram apresentadas em primeira audição na Sala Pleyel (Paris, 17 nov.,1924), com a cantora Claire Croiza acompanhada pelo próprio compositor, Honegger, ao piano; e, com Dora Stevens, em Londres (4 jan., 1927).

Arthur Honegger produziu a música para outra peça de Sófocles, Édipo-Rei [Oediphe-Roi], adaptada por Cocteau, que estreou em Paris (1952). A música, Toréador foi composta por Francis Poulenc, a Canção Hispânica-Italiana para voz e piano sobre palavras de Jean Cocteau (1932), dedicada a Paul Bertin, publicada pela Deiss (1933). Cocteau criou, juntamente com Raymond Radiguet o texto para a música incidental de O Guarda incompreendido [Le Gendarme incompris], de F. *Poulenc (1921), apresentando: 1. Overture [Abertura]; 2. Madrigal; 3. Final, que estreou no Théâtre des Maturins (Paris, 11 jul., 1921). A mesma música Le Gendarme incompris: Suite, foi adaptada por Poulenc para balé e apresentado no Teatro do Príncipe [Prince's Theatre] (Londres, 1921).

Poulenc compôs a música para voz (soprano) e orquestra, para o monólogo de Cocteau, A dama de Monte Carlo [La Dame de Monte Carlo] (dur. 6'30"), apresentada por Denise Duval (Monte Carlo, abr., 1961). A música também foi cantada por Elizabeth Robinson na Rádio BBC (Londres); e com a Orquestra Northern BBC, sob a regência do maestro Stanford Robinson (Londres, 1962). A música foi publicada por Ricordi (Paris, 1961).

No Teatro Municipal de São Paulo (TMSP), foi apresentada A Voz Humana, tragédia lírica em um ato com texto de Jean Cocteau e música de Francis Poulenc, cantada por Celine Imbert, com a orquestra soba a regência de Abel Rocha (27 nov., 1999).

A extensa filmografia de Cocteau incluiu o citado O Sangue de um Poeta [Le sang d'un poete] (Fr., 1930, 60'); o antológico filme A Bela e a Fera [La Belle et la La Bête] (1946); Águia de Duas cabeças [L'Aigle a deux têtes] (1948); Os Pais Terríveis [Les Parents Terribles] (1948); Coriolano [Coriolano] (1950, curta, 16 mm); Orfeu [Orphèe] (1950); Entrevistas ao Redor de um Cinematógrafo [Entrétiens autour d'un cinématographe] (1952) e O Eterno Retôrno [L'Eternel Retour]. O próprio Cocteau dirigiu O Testamento de Orfeu [Le Testament d'Orphèe] (FR, 1959, 77'), com atuação dele, de Lee *Miller, e da belíssima Marie Casarès, além dos destacados atores Jean Marais e Yul Brynner.

Outros artistas de vanguarda, como Pablo Picasso e Man Ray, participaram como atores com várias aparições rápidas em filmes de Cocteau. No último filme citado, O Testamento de Orfeu [Le Testament d'Orphèe] (1930), Cocteau demonstrou que a poesia poderia surgir dos fatos mais corriqueiros da vida diária. O artista misturou fantasia com realidade, como a flor de hibisco que surgiu do nada, e apresentou a mistura de personagens reais dialogando com mitológicos, que, no filme representavam a morte e a ressureição. Atuaram nesse filme considerado indescritível, personalizado e repleto de imagens estranhas e chocantes, escolhido para participar da Antologia 500 Melhores Filmes (COHEN & COHEN,1994). O filme de Cocteau, no qual aturam Lee Miller, Pauline Carton e Odette Talazac, recebeu o rótulo de filme Surrealista, que o artista refutou. No entanto, vários dos filmes de J. Cocteau foram apresentados na mostra Surrealismo, Cinema e Vídeo, realizada no CCBB (Rio de Janeiro, set., 2001).

Vários filmes de Cocteau foram escolhidos para participar da antologia 500 Grandes Filmes (COHEN & COHEN, 1994), que declararam sobre A Bela e a Fera ser um filme de visual rico e de expressividade lírica, obra-prima repleta de imagens assombrosas. Atuaram Jean Marais (a Fera), Josette Day (Bela), Mila Parély, Marcel André e Michael Auclair. Cocteau, escreveu e dirigiu o filme, que recebeu a fascinante direção de arte de Christian *Bérard. Durante a produção Cocteau manteve um diário em que descreveu sua procura dos locais para filmar, as várias dificuldades da filmagem e a tortura que foi fazer um filme no seu país após quatro anos de ocupação nazista (1946). Publicado como O Diário de Um Filme, o livro de Cocteau descreve alguns dos métodos usados por ele para criar suas fantasias. A fascinante imagem da Bela contracenando com a imponente Fera, encontra-se publicada (COHEN & COHEN, 1994).

Outro filme, Orfeu (1950), obra passada na França contemporânea, foi obra profundamente pessoal, embora mais acessível do que outros filmes de Cocteau. Jean Marais estrelou como o poeta Orfeu e não foi difícil perceber porque a Princesa da Morte (Marie Casarés), se apaixonou por ele. As cenas em que Marais penetrou no mundo inferior através de um espelho, e o próprio mundo inferior que lembra a Europa bombardeada, são imagens impressionantes e inesquecíveis.

A extensa biografia de Cocteau incluiu a criação de inúmeros cenários e figurinos para balé, teatro e cinema; inúmeros roteiros e argumentos, para mais de dezoito filmes; direção de arte para cinema e teatro, inclusive para outros diretores como o cineasta tcheco Jiri Trnka. Cocteau participou como ator de alguns filmes, como de O Imperador Pirilampo [The Emperor Nightingale] (1948) e atuou no documentário de Michel Grévin, entre outros; a filmografia completa de J. Cocteau, encontra-se publicada (KATZ, 1998). Cocteau produziu obras exepcionais nas várias técnicas das Artes Plásticas, como Pintura Mural, Desenho, Colagem, além de obras nas técnicas mistas sobre papel, além de Tapeçarias.

Cocteau participou ativamente da vida das vanguardas européias e tornou-se uma das personalidades artísticas mais fascinantes e populares, na França. O artista foi eleito membro da Academia da França (1955), dos Estados Unidos e da Alemanha; ele foi presidente de honra do Festival Internacional de Cinema, em Cannes.
 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

COHEN, D.; COHEN, L. 500 Grandes Filmes. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1994, pp. 27, 69, 163, 190.
DICIONÁRIO. BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire général du surréalisme et ses environs.:sous la diréction de Adam Biro et René Passeron. Genève – Paris: Office du Livre et Presses Universitaires de France, 1982. 464p.: il., retrs., p. 96.

DICIONÁRIO. CHAMBERS. Biographical Dictionary. COCTEAU, Jean. London: Melanie Parry - Chambers-Hanap, 1997, p. 417.

DICIONÁRIO. RAPP, B.; LAMY, J. C. de. Dictionnaire de Films: 10.000 films du monde entier. Paris: Larousse, 1990, pp. 100.

DICIONÁRIO. THOMPSON, K. A Dictionary of Twentieth-Century Composers:1911-1971. London: Farber & Farber, 1973. 666p., pp. 231, 232, 234, 247, 353, 354, 359, 368. 16,5 x 24,5 cm.

ENCICLOPÉDIA. KATZ, E. The Film Encyclopedia. Revised by Fred Klein and Ronald Dean Nolan. 3rd ed. New York: Harper - Perennial, 1999. 1586 p.: il. , p. 271.

JOHNSON, D.; JOHNSON, M. The age of illusion: art and politics in France, 1918-1940. London: Thames and Hudson, 1987.

MAURIÈS, P. Jean Cocteau. London: Thames & Hudson, 1998, p. 31.

VOGUE. New York: dec., 2001.







No comments: