Translate

Saturday, June 23, 2012

BIOGRAFIA: DERAIN, André (1880-1954).



BIOGRAFIA: DERAIN, André (1880-1954).

Derain nasceu em Chatou,morreu em Garches; seu pai foi comerciante de tratores e pertenceu ao Conselho Municipal de sua cidade natal. Derain recebeu educação tradicional de alto nível na rigorosa instituição Sainte-Croix-du-Vesinet e depois no Colégio Chaptal (Paris). Desde cedo Derain demonstrou seu gosto pelos esportes, pela pintura e música, decepcionando as perspectivas familiares, que desejavam-no engenheiro. O futuro artista abandonou os estudos formais aos 16 anos de idade, com notas mediocres, com exceção das excelentes nas matérias Desenho Ornamental e Desenho Linear.

Em Chatou, Derain conheceu Maurice de Vlaminck, músico e ciclista de competição. Na Academia Carrièrre, Derain conheceu Henri Matisse (1869-1954), que era dez anos mais velho e que conseguiu convencer seus pais a deixá-lo prosseguir na carreira artística. Derain foi seduzido pelo fogo pictórico de Maurice de Vlaminck (1876-1958), e admirou a circunspeção de Henri Matisse (1869-1954), mostrando-se desde o primeiro momento talentoso nas suas pinturas, como no Retrato de Matisse (1905, óleo/ tela, 25 cm x 31 cm, no Museu de Arte da Filadélfia, EUA); e ainda na pintura Três árvores em Estaque (1906, óleo/ tela, 100,33 cm x 80 cm, na Galeria de Arte de Ontario, Toronto, Canadá).

Derain foi apresentado no Salão de Outono presidido por Frantz Jourdain, Eugène Carriére e Pierre Auguste Renoir (1841-1919), quando Derain expôs quatro paisagens de Collioure, que pintou na companhia de Matisse. O público detestou as pinturas de Derain e o crítico de arte Camille Mauclair, do jornal Le Figaro, declarou sem nenhuma originalidade que

[...]um pote de pintura foi jogado na cabeca do publico [...]

Mauclair repetiu na França as palavras publicadas do crítico de arte inglês John Ruskin, proferidas em relação à pintura de James Whistler (1834-1903). André Gide, critico de arte da Gazette des Beaux Arts [Gazeta de Belas Artes]. batizou o movimento de A Gaiola das Feras [La Cage aux Fauves], parodiando a conhecida peça homônima, comparando os Fauvistas aos loucos; ele publicou essa critica com as palavras ...é a loucura. Gide, no entanto, conseguiu reconhecer na aparente loucura das cores essa arte, produto de teorias (v. o Grupo das Feras, Fauves ou Favistas)...a verdadeira, a pura, a pintura absoluta. Derain obteve carta de copista e encontrou no Louvre antigo colega do Colégio Chaptal, que copiava em tons puros o quadro A Batalha de San Romano, de Ucello. Impressionado, Derain ousou copiar a Descida da Cruz de Ghirlandaio, obra hoje atribuida a Biagio D'Antonio, empregando a paleta que pareceu violenta na época, o que determinou sua expulsão do Louvre por atentado à beleza.

Vlaminck, amigo de Derain, tinha horror de museus, a partir do cheiro, que detestava. Derain. no entanto, passou longos períodos no Museu do Louvre, onde ele descobriu os artistas primitivos pelos quais se apaixonou de forma delirante, pois pareciam ser para ele
 
Circunstancias de pane nos trens jogaram Derain e Vlaminck literalmente, nos braços um do outro, na linha férrea Garenne-Bezons (jun., 1900). Os artistas passaram a colaboradores, e, alugaram por dez francos mensais o salão de refeições de restaurante fechado, situado entre as duas pontes de Chatou. Nesse belo entorno, a paisagem, as árvores e as barcaças do Sena permitiriam a Derain consolidar a pintura cromática da Îlle de France. Os artistas pesquisaram em conjunto durante quinze meses e efetuaram as primeiras conquistas: Matisse foi visitá-los e levou Derain para pintar em sua companhia (Collioure, 1905). Formou-se o grupo com pinturas inundadas de cores primárias, em formas puras e primitivas, expostas na Sala VII, do Salão dos Artistas Independentes, que ficou conhecida como a Sala das Feras [Fauves] (Paris, 1905).

Derain obteve sucesso pessoal quando vendeu três pinturas para o russo Ivan Morosov, colecionador de pinturas de Matisse; e para o marchand Ambroise Vollard (1869-1935), que com ele, assinou contrato de exclusividade. Vollard desejava relançar a produção de Derain, como fizera anteriormente com Claude Monet (1840-1926), que, patrocinado por ele, passou várias temporadas em Londres (1870-1904). Ambroise Vollard, da Galeria de Arte parisiense que levava o seu nome, não teve a menor dificuldade de convencer Derain a colocar seu cavalete às margens do rio Tâmisa. Derain viajou para Londres duas vezes (nov., 1905; final jan. - mar., 1906). Derain, adorou as margens do Tâmisa, foi seduzido por seus cais e pontes como as de Westminter e Charing Cross; e seus edifícios monumentais, como construção neogótica do Parlamento Britânico. Em Londres, Derain multiplicou seus temas, e modificou o modo de pintar, com áreas de cores maciças e não por simples aplicação do material pictórico. Surgiram pinturas surpreendentes na obra de Derain, com cores fantasiosas e luminosidade totalmente arbitrária, como se fosse a pintura de cidade fantástica, transformada em fabuloso espetáculo onde a água e o céu ficavam cor-de-malva, verde ou violeta, e o Parlamento surgia na paisagem pintado de amarelo ouro. A Ponte de Westminster brilhava pintada em vermelho mais parecia sair da paleta psicodélica da vertente Pós-Impressionista da Pintura Pontilhista.

Na obra de Derain surgiu também a cidade de Londres mostrada no seu dia a dia, com parques de aléias rosas, com árvores vermelhas e grama verde brilhante, com crianças cachorros e pessoas que passeavam, como em Hyde Park (1906, óleo/ tela, 66 cm x 99 cm, no Museu de Arte Moderna de Troyes); ou como as duas pinturas Ponte de Charing Cross (1906, óleo/ tela, no Museu d'Orsay, Paris); a outra Ponte de Charing Cross (1906, óleo/ tela, 80,3 cm x 100,3 cm., na Galeria Nacional de Arte, Washinghton, DC, EUA); e a Ponte de Waterloo (1906, óleo/ tela, 80 cm x 100 cm., na Coleção Thyssen-Bornemisa, Lugano, Suíca); a Ponte de Londres (1907, óleo/ tela, 63 cm x 95,5 cm 1907, coleção particular, Zurique); ou o Parlamento, Vista Noturna (1906, óleo/ tela, 78,7 cm x 99,1 cm, no acervo do Museu Metropolitan, Nova York) e ainda obra pontilhista, quase abstrata, Efeitos de sol sobre a àgua, Londres (1906, óleo/ tela, 80,5 cm x 100 cm, no Museu da Anunciação, em Saint Tropez). Essas pinturas citadas são obras de outro Derain, diferente daquele copista do Museu do Louvre, da persistência da linha e da composição nas pinturas liberadas. Derain pintou ainda sua conhecida obra Três banhistas (1906) que, no mesmo ano ele expôs no Salão dos Artistas Independentes, certamente por influência da pintura O Banho Turco de Jean-Dominique Ingres, que esteve exposta no Salão de Outono anterior (1905). A reprodução da pintura Cinco Banhistas, obra-prima do final da vida de Paul Cézanne (12839-1906), estava em exposição permanente na parede do estúdio de Derain.

O artista plástico russo Léon Bakst (1866-1924), desejou ardentemente desenhar a cenografia e os figurinos para o balé A Boutique Caprichosa [La Boutique Fantasque] (1920), encenada em primeira récita pelos Ballets Russes de Sergei Diaghilev (1872-1929), com cenários e figurinos de André Derain (1880-1954) e música de Rossini, adaptada e orquestrada por Ottorino Respighi (1879-1936). Bakst chegou a apresentar para Diaghilev vários desenhos, encantadores e românticos, reproduzidos (SHEAD, 1989). No entanto, o empresário russo, voltado para o fato de sempre apresentar novas idéias no palco, escolheu André Derain para desenhar os cenários e figurinos desse balé. Dançaram La Boutique Fantasque: Enrico Cecchetti (o dono da loja), Sergey Grigoriev (o comerciante russo), Lydia Sokolova fazendo par com Leon Woizikovsky (dançarinos da Tarantella), Lubov Tchernicheva (Rainha do Baralho), Vera Nemtchinova (Rainha dos Corações) e Stanislas Idzikovsky, considerado brilhante no papel do Snob; Nicolas Zverev (Chefe dos Cossacos), Vera Clark e Kremnev (os Poodles), todos excepcionais bailarinos dos Balés Russos. Na temporada parisiense Lydia Lopokova e Leonid Massine formaram o par principal, dos dançarinos de Can-Can; mas, na temporada londrina, Massine dançou fazendo par com Tamara Kasarvina, bailarina adorada pelos ingleses. O balé foi ambientado em loja de brinquedos do final do século XVIII (c. 1880). Esse balé alcançou grande sucesso, principalmente em Londres (1917), onde, décadas mais tarde, foi reencenado pelo Sadler's Well Ballet, no Teatro do Covent Garden (1947). E, no final da década de 1950, Tatiana Leskova reviveu a coreografia de Massine para esse encantador balé, que estreou no palco do TMRJ/ Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ocasião em que o coreógrafo russo supervisionou pessoalmente sua antiga coreografia.

Os Ballets Russes montaram A Pastoral [La Pastorale], balé com libreto de Bóris Kochno, sendo a música encomendada a Georges Auric (v. Grupo dos Seis), com cenários e figurinos de André Derain, e coreografia do russo Georges Balanchine. Esse espetáculo passou despercebido, mas destacou o virtuosismo de Léon Woizikowski, que dançou com o apoio das bailarinas Félia Dubrovska e Lubov Tchernicheva (1926).

Derain participou da mostra pioneira organizada por Marie Cutoli, que encomendou e patrocinou Tapeçarias dos expoentes da arte francesa, que expôs na Galeria Reid e Lefèvre (Londres) e no Clube da Arte [Arts Club] (Chicago, 1933). Derain criou várias tapeçarias de grandes dimensões na técnica, dita, de Gobelin: foram reproduzidos seus cartões desenhados, obras que anteciparam o renascimento dessa categoria artística nas vanguardas do século XX.

Derain atingiu a maturidade artística depois dos cinquenta anos de idade; ele prosseguiu sempre na dianteira das vanguardas, e foi, considerado por muitos, como o crítico de arte e escritor Elie Faure
o maior pintor francês. Depois de 1930 Derain pintou As Bacantes; e Duas mulheres nuas com natureza-morta, entre suas obras mais notáveis dessa fase.

Derain, que morreu de acidente (10 set., 1954), certamente em vida, não foi um dos artistas mais cobertos de glória como Henri Matisse (1869-1954), que morreu consagrado e celebrado algumas semanas mais tarde. No entanto, Derain foi um dos artistas mais puros, com grande espontaneidade e talento expresso nas suas pinturas, a partir de sua participação no Grupo das Feras ou Fauvistas, a primeira vanguarda francesa no século XX.


FERRIER, J. L.: SIMON, A. Les Fauves: le régne de la couleur: Matisse, Derain, Vlaminck, Marquet, Camoin, Manguin, Van Dongen, Friesz, Braque, Dufy. Paris: Pierre Terrail, 1992. 223 p.: il., 59-76.

LÉVÊQUE, J-J. Le triomphe de l'art moderne: les Anées Folles. Paris: A. C. R. Éd. Internationalles, 1992. 624p.: il., retrs.,p. 302.

NÉRET, G. 30 ans d'art moderne: peintres et sculpteurs. Fribourg: Office du livre, 1988. 248p.: il., p. 302.

VERLET, P.; FLORISOME,M.;HOFFMEISTER, A.;TABARD, F.; LURÇAT, Jean. Le Grand Livre de la Tapisserie. Lausanne; Edita, 1965, p. 169..36 x 30 cm.

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


No comments: