Translate

Thursday, December 6, 2012

BIOGRAFIA: ROERICH, Nikolay Konstantinovich (1874-1947).



HISTÓRIA DAS VANGUARDAS RUSSAS E SOVIÉTICAS: OS ESPETÁCULOS ENCENADOS PELA CIA. TEATRAL S. P. DIAGHILEV.
 
BIOGRAFIA: ROERICH, Nikolay Konstantinovich (1874-1947).
Verdadeiramente um artista multimídia, das primeiras vanguardas do início do século XX, Roerich foi escritor, filósofo, antropólogo, arqueólogo, desenhista, pintor, figurinista e cenógrafo russo; seu gênio artístico se destacou nos vários campos de atividade que ele abraçou. O artista nasceu em São Petersburgo (Rússia) e morreu em Kulu (India). Roerich graduou-se em Direito (São Petersburgo, 1897), mas também estudou na Academia Imperial de Belas Artes (1893-1907).




 
O artista frequentou o estúdio de Arkhip I. Kuindzhi e pertenceu à associação de artistas Mundo da Arte [Mir Iskusstava] (1898-1904; 1910-1924), organizada por Sergey Diaghilev (1872-1929) e Alexandre Benois (1870-1960). Roerich inicialmente pintou paisagens e cenas históricas da Rússia: ele começou a trabalhar com cenografias teatrais na peça Os Três Magos (Tri Volchva, 1907), encenada no Teatro Stariny [Teatro Antigo], em São Petersburgo. Roerich se tornou bastante conhecido no Ocidente quando participou da criação da cenografia revolucionária e figurinos para três espetáculos: a ópera A Criança da Neve [Snegourotchka], com prólogo e quatro atos de autoria de Nicolay Andreevich Rimsky-Korsakov (1844-1908), com libreto do próprio compositor baseado na peça de A. N. Ostrovsky (Tradução de P. Galperin e P. Lalo), que estreou no Teatro da Ópera Cômica (Paris, 1908). A peça citada foi encenada no Teatro Rejneke, dirigida por E. P. Karpov (São Petersburgo, 1912).


 
Roerich criou cenografia e figurinos para as Danças Polovetsianas do Príncipe Igor, adaptadas da ópera com prólogo e quatro atos de Aleksandr P. Borodin (v. Grupo dos Cinco músicos russos), com libreto do próprio compositor baseado em poema anônimo do século XII [Slovo o polku Igorevo], que inaugurou a primeira temporada dos Balés Russos, da Cia. Teatral S. P. Diaghilev, encenada no Théâtre du Champs Elysées (Paris, 1909). Foram apresentadas as Danças do Ato III, da ópera citada, com coreografia de Michel Fokine (1881-1942). Os cenários de Roerich foram bastante atmosféricos, recordando a Rússia bárbara, com cenas passadas no deserto. Os figurinos, de inspiração eslava e oriental, apresentaram calças bufantes com listras verticais nas cores ocre, preto e vermelho, usadas com túnicas coloridas debruadas com bordados nas cores ocre e marron avermelhado, com detalhes amarelos e vermelhos. Nas mãos, adereços como flauta, faca, espada curva e arco e flecha. Este balé, com cenário e figurinos multicoloridos, ofereceu grande contraste com a primeira parte do programa inaugural que, na mesma noite, ofereceu os cenários clássicos de Alexandre Benois para o balé O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide]. Vaslav Nijinsky (1889-1950), dançou na noite de estréia (maio, 1909). Várias fotografias dos desenhos cenográficos de N. Roerich se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989).


A terceira das contribuições de Roerich para o Ocidente, foi a cenografia e figurinos para o balé A Sagração da Primavera [Le Sacre du Primptemps], para o qual ele também escreveu o libreto, em colaboração com o compositor russo Igor Fedorovich Stravinsky (1882-1971). O balé estreou com a orquestra sob a regência de Pierre Monteux e a coreografia de Vaslav Nijinsky, que também dançou como bailarino principal (Paris, 29 maio, 1913). O balé inaugurou o novo Théâtre du Champs Elysées, construido por Gabriel Astruc, o promotor da primeira temporada dos Balés Russos, que, nesta temporada parisiense apresentou três novos balés: Jeux (Debussy), Le Sacre du Primptemps (Stravinsky e Roerich) e a versão de A tragédia de Salomé (Florent Schmitts), com coreografia de Bóris Romanov.


 
Para A Sagração da Primavera, Roerich desenhou costumes multicoloridos; a criada escolhida recebeu saia com listras horizontais, com muitos desenhos Abstratos e Geométricos, usada com blusa do tipo túnica com mangas longas, com listras bordadas no punho e no decote de forma arredondada, com várias rosetas estampadas em amarelo sobre um fundo laranja vibrante na blusa, cor também do fundo da saia; o figurino encontra-se reproduzido (SHEAD, 1989).

Roerich continuou colaborando com o teatro russo, assinando a produção de Fuente Ovejuna (1912-1913), do poeta espanhol Lope de Vega, que estreou no Teatro Starinyi, em São Petersburgo. Roerich produziu cenários e figurinos para Peer Gynt (1912) de Henryk Ibsen, para o MchAT - Teatro de Arte de Moscou. A obra de Roerich, Rochas de Ronda (têmpera sobre papelão, 66 cm x 87 cm), desenho de cenário para o 3o ato desse drama de Ibsen, participou da mostra Virada Russa: a Vanguarda na Coleção do Museu Russo de São Petersburgo, e se encontra reproduzida no catálogo (CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, Brasilia, Rio de Janeiro, São Paulo, set.-nov., 2009).
 
Roerich foi viver em Nova York (1920-1923), onde posteriormente foi fundado seu museu. O artista voltou a viver em Moscou, mas depois viajou 16.000 através da Ásia Central, em expedição, na companhia de sua esposa e de seu filho mais velho, intérprete de idiomas como o chinês, o tibetano e o mongol, entre outros dialetos asiáticos raros (1925-1928). Roerich se instalou na região mais remota da Ásia, onde realizou pesquisas e estudos de Antropologia e Arqueologia, que se tornaram referência mundial.

 
Roerich se tornou cientista e antropólogo e fixou sua residência em Kulu (India), onde dirigiu a Estação de Pesquisa Científica do Himalaia (1928-1947). Roerich promoveu a filosofia de que a arte deveria trabalhar para união da humanidade: o artista desenhou a primeira bandeira internacional de proteção à propriedade cultural no caso de guerra e escreveu tratado de paz, assinado pelo presidente norte-americano Franklyn Delano Roosevelt e inúmeras autoridades, representantes de vários países.

         
A personalidade cheia de energia de N. Roerich levou-o a ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz; um de seus filhos, Svetoslav (1904-1993), casou-se com a sobrinha do pintor, filósofo, escritor, compositor, crítico de arte e reformador social indiano Rabindranath Tagore (1861-1941). Esta união de duas destacadas famílias de intelectuais, promoveu maior interação da cultura indiana com o Ocidente. As duas marcantes personalidades, Tagore e Roerich, divulgaram seus pensamentos através de palestras proferidas na Índia e internacionalmente, nos Estados Unidos e Europa. Tagore foi o primeiro escritor indiano e asiático a receber o Prêmio Nobel de Literatura por seu romance escrito no original (Bengali), mas traduzido pelo próprio autor para o inglês.

         
Roerich promoveu várias mostras das vanguardas ocidentais no Oriente (Calcutá, India): a primeira foi a Exposição dos Expressionistas Alemães (1922). Quando Roerich envelheceu, seu gênio artístico voltou a se manifestar, e ele produziu série de mais de 2000 pinturas. O artista foi homenageado com algumas mostras individuais, sendo uma nos Estados Unidos (1930); outra no Modern Art Museum (Oxford, Inglaterra, 1986); e ainda outra na Galeria Nacional de Belas Artes, celebrando as relações culturais Indo-Soviéticas, através da exposição Nicholas Roerich – A Eterna Questão, organizada pelo Ministério da Cultura e Governo da Índia, na Casa Jaipur (Nova Delhi, India, mar. – 11 abril, 2010). Essa mostra exibiu 75 obras do Centro Internacional Roerich (Moscou), associada às obras dele que pertencem a acervos de importantes instituições culturais indianas. Roerich viveu no país os últimos anos de sua vida e seu nome figura hoje entre os das mais celebradas personalidades indianas, como Rabindranath Tagore, Nandalal Bose e Jamini Roy.

Obras cenográficas de Roerich participaram de inúmeras mostras póstumas: Roerich (Moscou, 1958); Paris-Moscou, 1900-1930 (Paris, 1979); Tesouros do Museu Bachrusín (Moscou, 1980); Moscou-Paris, 1900-1930 (Moscou, 1981); Pelo Centenário de Nnascimento de I. F. Stravinsky (Leningrado, 1982); Legado Russo-Sueco, Duzentos Anos (Moscou, 1983); Roerich (Moscou, 1984); O Pintor e o Teatro do Século XX, inaugurada em Frankfurt (Alemanha), itinerante à Avignon (França, 1986); S. P. Diaghilev no 100º Aniversário de Nascimento (Perm, 1987); Sergey Diaghilev e a Cultura Artística Russa do Século XIX-XX (Perm, 1989).


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, Daniela (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, p. 108.


CATÁLOGO. PETROVA, Y.; KIBLITSKY, J.;RODRÍGUEZ, A.; ATHAYDE, R. de; COCHIARALLE, F. Virada Russa: a Vanguarda na Coleção do Museu Russo de São Petersburgo. Tradução de Elena Vassina, Alexander Borodin e Joseph Kiblitsky. São Paulo: set. - nov. 2009. 226p.: il., color., 25.5 x 32.5 cm,

 
DICIONÁRIO. CHILVERS, I. Dictionary of 20th century art. Edited by Ian Chilvers. Oxford: Oxford University Press, 1998. 670p. (Oxford reference), pp. 524-525, 606.

 
INTERNET. Roerich, N.
Acesso: 21 mar., 2010. 


No comments: