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Friday, October 18, 2013

BIOGRAFIA: TATLIN, Vladimir Evgrafovich (1885-1953). Ucraniano.

 


BIOGRAFIA: TATLIN, Vladimir Evgrafovich (1885-1953). 



O artista plástico, arquiteto, pintor, cenógrafo, artista gráfico, ilustrador e escultor do Construtivismo, nasceu em Kharkov, Ucrânia e morreu em Novo-Devitch (Rússia). Tatlin estudou com I. Goruskin-Sorokokudov e A. Afanas, na Escola de Artes (Penza, 1904-1908); ele foi aluno de Valentin Serov (1865-1911) e Konstantin Korovin (1861-1939) na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura (Moscou, 1902-1903; 1909-1911).

 
O artista começou a expor suas obras (1910-); ele participou das mostras do Mundo da Arte [Mir Iskusstva], organizado por Sergei Diaghilev (1872-1929). Obras de Tatlin participaram de algumas mostras (1913; 1914) desse grupo, que permaneceu ativo nas artes russas até meados da década de 1920 (1924). O primeiro grupo das vanguardas do qual Tatlin participou foi a Associação de Artistas União da Juventude [Soyuz Molodhesi] (1911-1914; v.), organizada por Olga Rozanova (1886-1918) e Mikhail Matiushin (1861-1934).
 
Tatlin adotou o estilo do Neo-Primitivismo quando pintou O Marinheiro (1911, óleo/ tela, 71,5 x 71,5), que ele doou, posteriormente, ao MCA-Museu de Cultura Artística. Na época o Primitivismo havia se tornado estilo popular e valorizado nas vanguardas ucranianas. Tatlin participou do Rabo de Burro [Osliny Kvost] (1912-1914), liderado por Mikhail Larionov (1881-1964), seu colega arquiteto, juntamente com Natália Gontcharova (1881-1962), um dos primeiros e dos mais influentes grupos das vanguardas russas. Na época seu amigo, Larionov, destacou a arte primitiva de raiz folclórica através das pinturas do artista Niko Pirosmani (1862-1918), que ele e Ilya Zdanevich (1894-1975) encontraram em Tiflis, cujas obras participaram da mostra que Larionov organizou, a N. 4, Raionistas, Futuristas e Primitivos (1914).
Tatlin viajou para Paris (1912), acompanhando conjunto de músicos russos, quando o artista visitou os ateliês de Georges Braque (1882-1963) e de Pablo Picasso (1881-1972), que executavam construções com materiais descartáveis como papel, papelão, cartão, arame, fios (cobre e barbante), entre outros, criando vários modelos destinados à verificação espacial de suas pinturas Cubistas. Restaram algumas fotografias destas construções, sendo que a maioria se encontra reproduzida no Catálogo Raisonée do período Cubista da obra de Picasso; a construção de Braque, obra que o artista montou no canto de seu estúdio, inspirou os ditos, Contra-Relevo de Canto de Tatlin, executados quando o artista retornou à Rússia.
 
Tatlin iniciou a construção de suas obras criadas em materiais alternativos, de formas inspiradas nas obras experimentais que ele viu em Paris. As pinturas de Tatlin participaram das mostras do grupo Valete de Diamantes [Bubnovy Valet] (1913); foi nessa época que Tatlin mostrou, pela primeira vez, seus relevos pintados, composições estáticas e sintéticas que depois nomeou de Contra-Relevos, expostas inicialmente no seu ateliê (Moscou). Tatlin participou da mostra Bonde V, Primeira Mostra Futurista (1915), organizada por Ivan Puni (1892-1956); e da outra mostra que o mesmo artista organizou, a 0.10: Última Mostra Futurista (São Petersburgo, 1915-1916). Nessa mostra Tatlin distribuiu seu Manifesto e expôs suas primeiras obras escultóricas Construtivistas, em sala separada da que apresentou as 39 pinturas de Kazemir Malevich (1878-1935), que, pela primeira vez expôs suas obras ditas, Suprematistas. Neste momento, Malevich se tornou o novo líder das vanguardas russas, substituindo Larionov que viajou para a França (1914).

Tatlin participou da decoração Construtivista nas paredes da Taverna Pitoresque (Moscou,1915), juntamente com Georgy Yaculov (1884-1928) e Aleksander Rodchenko (1891-1956). No ano seguinte Tatlin organizou a mostra O Armazém (1916), para a qual convidou Rodchenko, entre outros. Depois da Revolução Russa o arquiteto tornou-se diretor do Conselho da IZO Narkomprós para as Artes Visuais; no ano seguinte, diretor dos Ateliês Superiores de Arte e Técnica [VChUTEMAS]. Tatlin tornou-se presidente da Federação Esquerdista dos Pintores de Moscou (1917); e diretor do Departamento de Arte Figurativa do Comissariado do Povo para a Educação, IZO (1918-1919). Tatlin lecionou na Oficina Estatal Livre de Artes (Moscou, 1918-1919); ele ensinou nas VChUTEMAS - Oficinas Superiores de Arte e Técnica (Petrogrado, 1919-1924).
 
 

O artista foi convidado para criar a homenagem à III Internacional, projeto de arquitetura cuja maquete simplificada com c. de 20 metros de altura participou da exposição inaugurada em Petrogrado, itinerante a Moscou (1920). Esta construção de natureza fantástica deveria tornar-se a estrutura de edifício gigantesco, com 400 metros de altura, quase a mesma altura das Torres Gêmeas do World Trade Center, 405 metros, destruídas no maior atentado terrorista perpretado no mundo, em 11 set., 2001, em Nova York. A construção abrigaria no seu interior outro enorme edifício, de forma espiralada, projetado para abrigar nos seus vários níveis os diversos departamentos da nova ordem estatal soviética. O projeto de Tatlin nunca foi construído, mas a divulgação de sua maquete rudimentar, apresentada nas ruas de Moscou e Leningrado, conquistou multidões, que, desde então, reconheceram em Tatlin o Pai do Construtivismo russo.

 
O artista participou da União das Correntes Novas (1921-1923); ele tornou-se Diretor de Material Cultural do INChUK - Instituto de Cultura Artística (1922); e, no mesmo ano, suas obras participaram da I Exposição Internacional de Arte Russa, realizada na Galeria van Diemenn (Berlim; Amsterdã). Tatlin foi quem projetou e montou o Pavilhão Soviético na Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas, conhecida como Exposição Universal (Paris, 1925). Nessa mostra Tatlin expôs sua maquete do Monumento à III Internacional; Rodchenko foi premiado por seu Projeto do Clube do Trabalhador e Vadim Meller recebeu medalha de ouro pelo cenário produzido para o Teatro Berezyl(Kiev).


 
Tatlin ensinou no Instituto de Artes (Kiev, 1925-1927), onde dirigiu as seções de Teatro, Cinema e Fotografia. Nesse instituto formou-se o importante grupo da ARMU - Associação dos Mestres Revolucionários da Ucrânia (c. 1922-1932), com a participação dele e de David Burliuk (1882-1967), Aleksandr Bogomázov (1880-1930), Vadim Meller (1884-1962), Victor Palmov (1888-1929) e Vasyl Yermilov (1894-1968), entre outros. O grupo organizou a mostra coletiva Dez Anos de Outubro (Kiev, 1927), itinerante a Kharkiv e Odessa. Posteriormente Tatlin chefiou o departamento de metal e madeira das VChUTEMAS (1927-1930). Tatlin foi nomeado Funcionário de Mérito da U.R.S.S. (1931).


 
Um projeto de natureza fantástica de Tatlin foi a estrutura de objeto voador com grandes asas, do tipo Asa Delta, que denominou Letatlin, visando alçar voo, espelhado nas máquinas fantásticas de Michelângelo. O artista dedicou mais de dois anos a este projeto utópico, sem conseguir sucesso. Neste período Tatlin ilustrou vários livros infantis (1929-1932) e, anos mais tarde, desenhou a ilustração para a capa das Obras Inéditas de Viktor Khlebenikov (1940).
 
 
Desde a segunda década do século XX Tatlin tornou-se ativo como cenógrafo; ele desenhou cenografia e costumes para a ópera Uma Vida para o Czar Ivan Suzanin (1913-1914), drama em cinco atos com música de Mikhail Ivanovitch Glinka (v. grupo dos Cinco), com libreto do Barão E. F. Rozen, espetáculo nunca realizado com a cenografia de Tatlin. Esta ópera se transformou no clássico teatral russo, sendo encenada mais de 100 vezes até 1851; ao chegar ao século XX, a ópera havia sido encenada em mais de 500 apresentações. Quando chegou a Revolução Russa, a ópera sofreu modificação na história, sendo o Czar substituído por burguês muito rico, que formou seu próprio exército para lutar contra os poloneses, na época inimigos dos russos; e, anos mais tarde, a ópera voltou a ser encenada com a história do libreto original.Tatlin criou a cenografia e figurinos para a ópera O Holandês Voador (1915-1918), de Richard Wagner, com libreto e música do compositor alemão baseada em história popular adaptada por H. Heine. Este espetáculo também nunca foi encenado, mas os desenhos cenográficos de Tatlin para ambas as óperas citadas se encontram no acervo do Museu Teatral Bachrusín (Moscou) e participaram de mostras póstumas como O Pintor e o Teatro no Século XX (Frankfurt, Alemanha), itinerante à Avignon (França, 1986); da mostra Arte e Revolução (Budapeste, 1987); da exposição Arte Russa e Soviética, 1870-1930 (Turim, 1989) e da Rússia 1900-1930, Arte Cenográfica [Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna], realizada na Galeria Electa (Milão, 1990). Todas as mostras citadas publicaram catálogo.

Como todos os artistas das vanguardas russas Tatlin teria que retornar à pintura figurativa, de conformidade com a norma imposta pela nova ordem artística russa, do estado patrono das artes liderado por Ióssif Stalin. Tatlin, coerente consigo mesmo, parou com a arte e retornou à música. No mesmo ano em que Stalin faleceu Tatlin morreu abandonado por todos, recolhido no asilo para artistas desamparados (Novo-Devitch, 1953). A fotografia da maquete do Monumento a III Internacional, de Tatlin (1920), bem como de seu projeto utópico Letatlin, se encontram reproduzidas (GASSNER, 1992). 
 

REFERÊNCIAS SELECIONADAS


 
CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, Daniela (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, p. 92.

 

CATÁLOGO. PETROVA, Y.; KIBLITSKY, J.; RODRÍGUEZ, A.; ATHAYDE, R. de; COCHIARALLE, F. Virada Russa: a Vanguarda na Coleção do Museu Russo de São Petersburgo. Tradução de Elena Vassina, Alexander Borodin e Joseph Kiblitsky. São Paulo: set. - nov. 2009. 226p.: il., color., 25.5 cm x 32.5 cm.



 
CATÁLOGO RAISONÉE. CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction Françoise Cachin; documentation Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977. 135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm.



 
CATÁLOGO RAISONÉE. DAIX, P.; ROSSELET, J. Le cubisme de Picasso: catalogue raisonée de l'oeuvre peint, 1907-1916. Neuchatel: Îdes et Calandes, 1979. 366p.: il.
 
 

CONRADS, U.; SPERLICH, H. Architecture Fantastique. Documentação de Paul Sheebart. Stuttgart: Delpire-Gerd Hardje Verlag, 1960, p. 99.

 
 
GASSNER, H. The Constructivists: Modernism on the way of Modernization. Translated by Jurgen Riehle. Apud CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C. The Great Utopia. The Russian and Soviet Avant-Garde 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10 May, 1992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 06, 15, 18, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31.


 

 
LECLANCHE-BOULÉ, C. Le Construtivisme Russe: typographies et photomontages. Documentation Marc Martin-Malburet. Paris: Flammarion, 1991. 173p.: il., retrs., pp.153-154.

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