Translate

Sunday, December 1, 2013

BIOGRAFIA: MAIAKOVSKY, Vladimir Vladimirovich (1894-1930).

 
BIOGRAFIA: MAIAKOVSKY, Vladimir Vladimirovich (1894-1930).
 

 
O artista nasceu em Bagdadi, na Rússia e suicidou-se em Moscou. Maiakowsky foi artista multimídia: poeta, escritor, teatrólogo, cenógrafo, figurinista, cineasta, pintor, revolucionário e anarquista. O artista ficou muito conhecido por seus livros de poesia: ele se associou ao Grupo (Literário Russo) Hyleae (São Petersburgo, 1910-1913). O grupo reuniu Maiakowsky aos escritores Benjamim Livshits, os irmãos David e Vladimir Burliuk, Velimir Khlebnikov, Alexey Kruchenykh, Elena Guro e seu marido, Mikhail Matiuskin, editor do grupo e também músico, pintor e teórico das artes das vanguardas.

 
No começo de sua carreira Maiakowsky desenhou, pintou e criou vários figurinos para suas peças, como a Tragédia, que, com cenografia de Pavel Filonov e música de Iósif Shkolnik, encenada no Teatro Luna Park da Ópera Cômica (São Petersburgo, 5 de dez., 1913). A Revolução Russa chegou ao país em dois momentos marcantes: no início do ano, quando a família do Czar Nicolau II foi aprisionada e no segundo momento, a dita Revolução Bolchevique (out., 1917). No primeiro momento os artistas das vanguardas russas apoiaram-na, inclusive Maiakovsky; a pedido dos novos líderes proletários ele escreveu a peça teatral O Mistério Bufo, encenada sob a direção de Vsevolod Meyerhold (Vsevolod Emilovich Meyerhold: Karl Theodor Kasimir Meiergold, 1874-1942), com cenários de Natan Altman (1889-1970) e figurinos do próprio autor (Moscou, 1918). Maiakowsky foi figurinista e usou normalmente suas roupas originais provocativas como mensagem. A peça foi ao palco na versão amena, cômica e otimista do tema Futurista, conforme abordado na Máquina do Tempo, de H. G. Wells (1866-1946). Certa vez Maiakovsky confessou que, durante sua infância, foi influenciado pelos romances de Jules Verne (1828-1905), autor extremamente popular no século XIX e nas primeiras décadas do século XX, escritor premonitório em relação ao futuro na era da máquina.

Maiakovsky se tornou cineasta e diretor do filme experimental Não nascido para o dinheiro, que produziu junto com seu grande amigo David Burliuk (1918). No mesmo ano Maiakowsky dirigiu o filme em que Lily Brik (Lilya Urievna Kogan, 1871-1978), foi a atriz principal: Acorrentada Pelo Filme, cujo cartaz ele desenhou (1918, guache/ papel, 108 cm x 71 cm, no acervo do Museu Maiakovsky, em Moscou). O artista e escritor publicou extensas odes poéticas em homenagem aos maiores líderes da Revolução Russa, como Lênin, que ele celebrou em 3000 mil versos. Em relação às Artes Plásticas, o artista declarou:

[…] Não necessitamos de museus para celebrarmos a arte morta, necessitamos de fábricas livres de alma - nas ruas, nos trens, nas fábricas, nos estúdios, nas casas dos trabalhadores […]

 
 
O escritor trabalhou na Editora Lubok de Hoje, junto com Kazimir Malevich (1878-1935), que se tornou o principal desenhista da empresa; Maiakovsky escreveu os textos dos cartazes da editora. A dupla Maiakowsky - Malevich criou centenas de cartazes que alcançaram grande sucesso (1914-). Várias dessas obras estiveram com seus originais em exposição na mostra Gráfica Utópica. Arte Gráfica Russa 1904-1942, no CCBB (Rio de Janeiro, 2002). Maiakowsky foi convidado a escrever textos publicitários para a Agencia Telegráfica Estatal (ROSTA, 1919-1922), quando ele criou dezenas de textos curtos para anúncios de divulgação da Revolução Russa. Estes cartazes ficaram populares e foram chamados de Rostas pela população.


 
Maiakovsky foi apaixonado por Lily Brik, atriz e esposa do poderoso burocrata Osip M. Brik (1888-1945), cuja posição política no Estado Soviético equivalia a de ministro. Maiakowsky escreveu o poema Amo [Lioubriou] (1922), confissão autobiográfica de grande intensidade e dimensões universais. O primeiro livro de poesia de Maiakovsky em homenagem a Lily Brik foi Para Ela [Pro Eto] (1923), longo poema de 55 páginas, ilustrado com 9 fotomontagens de Alexander Rodchenko (1891-1956),nas quais utilizou composições com fotografias originais de Lily Brik (5 ils., página inteira) e outras fotografias originais de Maiakovsky, desde a infância até a idade madura (2 ilustrações, id.). Os originais participaram da mostra citada: nessas obras gráficas Rodchenko usou a técnica mista da colagem de fotografias recortadas coladas sobre papel preto, retocadas com tinta; o livro foi o primeiro no mundo ilustrado com fotomontagens originais. A composição de Rodchenko se mantém moderna até hoje. O poema de Maiakovsky foi escrito do final do ano (dez., 1922 - fev., 1923) foi publicado no mês seguinte: as ilustrações foram reproduzidas catálogo da mostra citada. Os originais pertencem ao Museu Maiakowsky (Moscou).
 
 
 
Maiakovsky passou a escrever e publicar dezenas de livros; o escritor participou, juntamente com Kazimir Malevich da equipe da Casa Editorial Lubok de Hoje. Maiakowsky e Malevich foram as principais figuras da editora, ele como principal escritor e seu amigo como o mais importante desenhista da empresa (v. Arte Gráfica Russa). Maiakowsky escreveu inúmeras peças de teatro como Percevejo [Klop] (1929-1930), encenada sob a direção de V. Meierhold no Teatro Meierhold, pelo Grupo Kuryniksy, formado por Mikhail Vasilievich Kupryanov (1920-1930), Porfirik N. Kirylov e Nicolay A. Sokolov, pintores, artistas gráficos e cenógrafos.

 
 
Devido à estatização da arte, firmemente estabelecida na URSS, desde o início da década de 1920 Maiakowsky perdeu grande parte de seus amigos como Mikhail Larionov, Natália Gontcharova e Ivan Puni, que emigraram para a França (1914-1915); David Burliuk, que viajou para o Japão com sua exposição individual (1922) e depois, emigrou para os E.U.A.; os irmãos Naum Gabo e Anton Pvsner, que organizaram e levaram a Exposição Internacional de Arte Russa para a Galeria Van Diemenn (Berlim, 1922), e permaneceram na Alemanha, vivendo depois na França e naturalizando-se, tal qual Larionov e Gontcharova (1938). No decorrer de uma década, Mayakovsky viu desaparecer toda uma geração de seus amigos artistas das vanguardas soviéticas.

 
Maiakovsky viajou por vários países, Alemanha, França, Estados Unidos, Espanha e Cuba: quando ele voltou à Rússia proferiu sua palestra Vamos Viajar (1927). No seu último ano de vida, Maiakowsky visitou Paris, onde conheceu o grupo dos artistas e escritores Surrealistas (1930). O autor russo reuniu-se diversas vezes com André Breton (1896-1966), tendo por intérprete Elsa Triolet (1896-1970), escritora e esposa do escritor do Surrealismo Louis Aragon (1897-1982), irmã de Lili Brik, a musa dele, Maiakowsky.

 
Maiakovsky organizou a mostra de seus livros e cartazes publicitários (Moscou, fev., 1930); no mês seguinte, o escritor matou-se com tiro certeiro no coração (14 março). A vida do artista foi encurtada por seu suicídio; as verdadeiras causas permanecem encobertas, mas, como a obra de Maiakovsky foi completamente autobiográfica, lembramos que o autor escreveu o livro Sifilis, sobre a doença sexualmente transmissível, naquela época, incurável, que provocava morte extremamente dolorosa, como a de Henri de Toulouse-Lautrec (1903).
 
 
O suicídio de Mayakovsky foi comentado por André Breton na sua revista Surrrealismo a Serviço da Revolução (SASDLR), onde ele escreveu notas biográficas de Maiakowsky. Os obituários publicados na URSS recordaram as origens proletárias do poeta e declararam que o escritor tinha sido o burguês inadaptado à emancipação do proletariado (sic). Os jornais franceses Le Monde [O Mundo] e L'Humanité [A Humanidade], divulgaram a tradução do obituário russo, publicado inicialmente no jornal russo Konsolmolskaia Pravda, que honravam o artista, não como um poeta proletário, mas como poeta alinhado com os proletários, contrário à linha dura do Partido Comunista (PC). Um ano depois da morte do artista, Ióssif Stalin declarou Maiakovsky o maior poeta da URSS. O mais conhecido livro de poemas de Mayakovsky foi As Nuvens de Calças (1915), Futurista e autobiográfico, simples e popular. Maiakovsky escreveu o poema longo e pacifista, Guerra e Universo (1916): ele declarou que a poesia deveria ser destinada a todos.

 
O Museu Maiakovsky (Moscou, 3/ 6 Proyezd Serova), conserva os arquivos do grande poeta, idolatrado pelo povo russo; muitos dos citados cartazes de Maiakovsky, entre vários outros, se encontram no acervo do Museu do Filme e do Museu Central Estatal da História Contemporânea da Rússia (Moscou). As fotografias de Maiakowsky, com parte do Grupo Hyleae e na recepção que F. T. Marinetti ofereceu às vanguardas russas, quando o poeta foi fotografado junto com Mikhail Larionov, se encontram publicadas (HULTEN: 1983, 416). Fotografias do artista, uma em companhia de David Burliuk e outra em que Maiakowsky está sozinho, se encontram publicadas (KRENS: 1992). As fotografias de Lily Brik e as de Maiakowsky enquanto criança, jovem e homem, se encontram presentes nas Fotomontagens de Rodchenko (1923), entre outras fotografias do poeta, sendo que o grupo inclui o escritor russo Bóris Pasternark (Prêmio Nobel de Literatura, para Arquipélago Gulag) e o cineasta Sergey Eisenstein, publicadas (SALLES, 2002).
 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:


ALBERA, F.Eisenstein e o Construtivismo russo - A dramaturgia da forma em "Stuttgart". Tradução Heloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac e Naify Edições, 2002, p. 31.


CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978. 475p.: il., pp. 256-257.

 
CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, D. (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, p. 41.

 
CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.;.WEBER, J. The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10May, 12992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 01, 03, 09, 11, 15-16, 18, 21.


CATÁLOGO. SALLES, E. Gráfica Utópica. Arte Gráfica Russa, 1904-1942. Tradução de Paulo Cypriano. Rio de Janeiro: CCBB, 2002, pp. 13, 28-30, 42-49, 86-149, 156-159, 171.


CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., pp. 416, 612.



DICIONÁRIO. BIRO, A.; PASSERON, R. Dictionaire général du surréalisme et ses environs: sous la diréction de Adam Biro et René Passeron. Genève – Paris: Office du Livre et Presses Universitaires de France, 1982. 464p.: il., retrs., p. 256.



DICIONÁRIO. CHILVERS, I. The Concise Oxford Dictionary of Art and Artists. Edited by Ian Chilvers. Oxford: Oxford University Press, 1990. 517p,, p. 387. (Oxford reference)



DICIONÁRIO. SCHMIED, W.; WITFORD, F.; ZOLLNER, F. The Prestel Dictionary of Art and Artists in the 20th century. Munich London - New York: Prestel, 2000. 383p.: il., p. 389.



EISENSTEIN, S.; MARSHALL, H, (Edição e pref.). Memórias imorais, uma autobiografia. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Cia das Letras, 1987, p. 179.



KOVTUN, Y Mikhail Larionov 18811963. Cronicle of the artist's life and work. Translated by Paul Williams. Bournemouth: Parkstone Press, 1998. 175p.: il., retrs.,pp. 56-72. (Great Painters).



PIERRE, J. L'Univers Surréaliste. Paris: Somogy, 1983, p.17.



POMORSKA, K. Formalismo e Futurismo. Tradução de Sebastião Uchôa Leite. São Paulo: Perspectiva, 1993, p. 128.

No comments: