Translate

Sunday, February 5, 2012

BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA COMPANHIA TEATRAL SERGEY PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929). (Paris, 1909-1929).

PRIMEIRA PARTE.
Paris, 1906-1909.


O artista plástico e músico russo, Sergei Pavlovich Diaghilev, (1872-1929) transformou-se no bem sucedido empresário dos Balés Russos [Ballets Russes] (Paris, 1909-1929). Quando jovem, Diaghilev sempre conseguiu patrocínio entre a nobreza russa para as primeiras mostras de arte que ele organizou, na Rússia, e no exterior. A primeira no estrangeiro foi a Sala Especial Russa, no Salão de Outono (Paris, 1906). Para essa mostra, organizada com a colaboração do vanguardista Mikhail Larionov (1881-1964), Diaghilev trouxe para a capital francesa desde preciosos ícones antigos até obras dos artistas contemporâneos russos, que pertenciam à associação de artistas Mundo da Arte [Mir Iskusstva] (São Petersburgo, 1898-1904; 1910-1924). Diaghilev foi organizador desse grupo, juntamente com o artista plástico e cenógrafo russo Alexandre Benois (Aleksandr Nicolaevich Benua, 1870-1960). (1874-1947). No papel principal, o baixo russo Fyodor Ivanovich Chaliapin (1873-1938), como Ivan, tão admirado como no outro papel que ele desempenhou na mesma temporada, o de Bóris, na ópera Bóris Godunov (Paris, 1908). Essa outra ópera, com música (1891) de Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881; v. o Grupo dos Cinco, músicos russos), baseada no texto de Alexandre Puchkin (1799-1837), recebeu a cenografia e figurinos de Ivan Bilibin (Jean Bilibine, 1876-1942) e foi orquestrada por Sergei Vasilievich Rachmaninov (1873-1943). Foi apresentada a segunda ópera, a hoje esquecida Judith, de Valentin Aleksandrovich Serov (1865-1911).

Desde a primeira mostra de artes plásticas realizada na Rússia, Diaghilev foi patrocinado pelo Grão Duque Vladimir, até que o nobre faleceu (1909). Entre os vários Presidentes de Honra dos comitês de patrocínio europeus, incluiu-se a Condessa de Greffulhe, casada com banqueiro e patronesse da importante Sociedade dos Concertos Franceses [Société des Concerts Français], que representava uma das mais poderosas presenças na cultura de seu país. Diaghilev apresentou sua idéia e a Condessa aderiu: foi ela quem tornou possível a primeira exposição de Arte Russa, em Paris (1906). Outras das distintas patronesses dos Balés Russos foram Misia Godbeska, Mademoiselle Gabrielle Coco Chanel e a Princesa de Polignac, entre outras.

O empresário russo tornou-se mundialmente conhecido: ele promoveu o primeiro entre cinco concertos de música clássica e ópera russa (1907; 1908), eventos organizados conjuntamente com Gabriel Astruc, diretor da Revista Musical [La Révue Musicale]. Na primeira temporada da dita, Semana Russa, Diaghilev apresentou a ópera de Nicolai Andreevich Rimsky-Korsakov (1844-1908), A lenda da cidade invisível de Kitszh e da virgem Fevrônia (1868), baseada na narrativa popular da tradição oral russa (Paris, 1907). Na segunda temporada da dita, Semana Russa, o programa operístico apresentou, pela primeira vez no ocidente a ópera Ivan o Terrível, de N. Rimski-Korsakov, baseada na história da revolta dos habitantes de cidade contra o Czar Ivan, nome com que a obra estreou inicialmente nos palcos russos (1907). Diaghilev levou essa ópera para os palcos parisienses, com a regência do próprio compositor. Foram muito admirados os cenários de Ivan o Terrível, criação de Nicolai Konstantinovich Roerich (1874-1947).

A COMPANHIA TEATRAL S. P. DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).

São Petersburgo, 1907; Paris, 1908-1909.

Diaghilev viu Vaslav Nijinski (1889-1950), dançar nos palcos russos, quando o jovem bailarino tinha apenas 16 anos de idade; Nijinsky foi-lhe apresentado pelo príncipe Pavel Dimitrievitch Lvov (1908). O jovem bailarino precisou encenar seu primeiro escândalo no palco russo para conseguir a dispensa da companhia na qual ele trabalhava. Assim que Nijinski viu-se livre das amarras, viajou para Paris em companhia de Sergei Diaghilev, que, posteriormente tornou-o, não só seu amante, mas o principal bailarino e, posteriormente, coreógrafo da companhia. Na escolha dos balés que seriam encenados pelos Balés Russos nos palcos europeus, o empresário determinou os primeiros papéis de destaque para o talentoso jovem bailarino.

Nos palcos russos Diaghilev apreciou o balé Chopiniana, com a coreografia original que Michel Fokine (1881-1942) criou para a Récita de Gala do Balé Imperial, realizada no Teatro Mariinskii(São Petersburgo, fev., 1907). Este evento resultou na nova apresentação parisiense do balé As Sílfides [Les Sylphides], com a adaptação do Noturno em A Sustenido, da Valsa Brilhante (C Menor) de Fréderic Chopin, que Igor Fedorovich Stravinski (1882-1971) posteriormente orquestrou (1909). Esse balé, dançado pela grande estrela russa Anna Pavlova (1882-1931), estreou no Théâtre du Châtelet (Paris, 02 jun., 1909).

Os músicos Walter Nuvel e Nicolas Tcherepnin, ajudaram o empresário iniciante, Sergei Pavlovich Diaghilev (1872-1929), escolher o repertório para sua primeira temporada parisiense da Companhia Teatral Sergei Pavlovich Diaghilev (Paris, 1909-1929). O balé proposto foi O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide], apresentado recentemente nos teatros russos. Essa produção de estréia dos Balés Russos de Diaghilev, foi obra de colaboração entre o coreógrafo Michel Fokine (1881-1942), o compositor da música, Nicolas Tcherepnin e o cenógrafo Alexandre Benois (Aleksandr Nicolaevich Benua, 1870-1960). Desde então, o que predominou nas montagens dos espetáculos da companhia foi a essência do palco projetado na filosofia wagneriana, do Trabalho de Equipe [Gesamtkunstwerk]. Diaghilev começou a assinar contratos com seus primeiros bailarinos, Anna Pavlova e Tamara Kasarvina.

Os trajes e cenários dessa sua primeira produção Diaghilev confiou aos até então mais destacados entre os pintores russos pertencentes à associação de artistas O Mundo da Arte [Mir Iskusstva] (v.). Na estréia, os cenários e figurinos foram de autoria de Léon Bakst (1866-1924), de Valentin Alksandrovich Serov (1865-1911) e de Nicolai Konstantinovich Roerich (1874-1947). Posteriormente, Bakst se tornou o mais celebrado cenógrafo russo na Europa, artista têxtil, especializado em figurinos teatrais: e Roerich, destacou-se nas produções cenográficas dos teatros russos, como o MChAT- Teatro de Arte de Moscou.

O segundo balé escolhido para a primeira temporada foi Uma noite no Egito [Une nuit d'Egypte] com música de Anton Stepanovich Arenski, que Diaghilev trocou de nome para Cleópatra [Cléopâtre] (1909). O empresário não gostou da música composta por Arenski e trocou-a por vários trechos de peças musicais de autoria de N. Tcherepnin e dos integrantes que posteriormente ficaram conhecidos na França como o Grupo dos Cinco (N. Rimski-Korsakov, M. Mussorgsky, A. Glazunov, A. P. Borodin e M. Balachirev; v.).

Para a segunda parte do programa da noite de estréia em Paris, foi Nicolai Roerich, quem criou cenografia e figurinos para as Danças Polovetsianas do Príncipe Igor, adaptadas da ópera com prólogo e quatro atos de Aleksandr Porfirevich Borodin (1833-1887), com libreto do próprio compositor baseado em poema anônimo do século XII. Foram apresentadas as Danças, do Ato III da ópera, com cantores, coro, dançarinos e orquestra com coreografia de Michel Fokine (1881-1962). Foram atmosféricos os cenários de Roerich, mostrando cenas passadas no deserto, recordando a face russa, bárbara e primitiva. Os figurinos, de inspiração eslava e oriental, apresentaram nas mãos adereços como flauta, faca, espada curva e arco e flecha (SHEAD, 1989). Esse balé, com cenário e figurinos multicoloridos, ofereceu grande contraste com a primeira parte do programa inaugural que, na mesma noite mostrou os cenários clássicos de Alexandre Benois (1870-1960), para O Pavilhão de Armide [Le Pavillon d'Armide].  

Outro verdadeiro triunfo ocorreu na segunda récita dos Balés Russos, que começou apresentando o segundo ato de Ruslan e Ludmila (Mikhail Glinka); seguida do balé As Sílfides [Les Sylphides], (Chopin), dançado por Anna Pavlova, Tamara Kasarvina e Vaslav Nijinski. Pouco antes, Diaghilev conheceu o músico e compositor Igor Fedorovich Stravinski (1882-1971), quando o empresário encomendou-lhe a nova orquestração das músicas de Chopin para o balé As Sílfides. Diaghilev apreciou as inovações introduzidas pelo músico russo e formou com ele grande parceria. Stravinsky, gênio musical projetado na cena internacional aos 27 anos de idade, se transformou no principal compositor dos espetáculos dos Balés Russos e o mais destacado músico de vanguarda no século XX.

Foram incluídas músicas de Alexandre Glazunov e Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881). Diaghilev apresentou também no programa o Pas de deux do Pássaro azul, do balé A Bela Adormecida, de P. I. Tchaikovski, música com arranjo (1892) de Sergei Vasilievich Rachmaninov (1873-1942), dançada pelos virtuoses Tamara Kasarvina e o jovem Nijinsky, aos 20 anos de idade. A dupla também dançou com Vera Baldina o dito, Pas des trois, muito aplaudido.

O último balé da primeira noite foi Cleópatra, com cenários e figurinos de Leon Bakst (1866-1924), quando Nijinski (1889-1950), dançou como par de Tamara Kasarvina; e Michel Fokine (1881-1942), como Amon, foi par de Anna Pavlova (1882-1931), como Ta-Hor. Depois da apresentação da dança, apareceu no palco a dita, Procissão de Cleópatra, quando o grupo de bailarinos carregou o sarcófago, cuja abertura o coreógrafo transformou em ato cênico espetacular. A bailarina Ida Rubinstein, considerada como uma das mais belas jovens de seu tempo, foi a estrela principal desse espetáculo dos Ballets Russes, estreando no papel principal de Rainha do Egito, que ela desempenhou com perfeição (02 jun., 1909). Esse balé tornou-se o primeiro espetáculo mais popular dos Balés Russos e promoveu efeito imediato na moda e na decoração parisiense, que recebeu a influência egípcia.

A noite de estréia terminou com o dito, Divertimento [Divertissement], que Diaghilev batizou de O Festim [Le Festin], no qual ele apresentou mistura de trechos das composições musicais de N. A. Rimski-Korsakov (1844-1908) e M. I. Glinka. A apresentação incluiu a Suite Caucasiana da Ópera Ruslan e Ludmilla, com música de Glinka, com libreto baseado no primeiro livro de Alexandre Puchkin (1799-1837), a epopéia romântica que Diaghilev conhecia de cór quando levou-a aos palcos parisienses. O avô de Puchkin nasceu negro, na Abissínia: o Czar Pedro, o Grande, nomeou-o general e casou-o com dama de sua corte. Puchkin, escritor de valor reconhecido internacionalmente, estudou no Liceu Imperial de Tzarskoe Selo; ele foi posteriormente admitido no Ministério das Relações Exteriores.

A noite de estréia dos Ballets Russes no Théâtre du Châtelet foi esplendorosa, sucesso que consagrou as novíssimas estrelas (Paris, maio, 1909). Sobre esta primeira temporada da Companhia Teatral S. P. Diaghilev, c. de vinte anos depois, o crítico de arte Émile Henriot escreveu, (SHEAD, 1989):



Todos os elementos estavam combinados e mesclados conjuntamente de forma tão íntima que não era possível separar qualquer parte destes belos espetáculos do resto... Os Ballets Russes foram o triunfo da unidade, e isto, penso, é a grande lei de toda criação clássica.


Na noite inaugural, Diaghilev viu o primeiro triunfo de seus Ballets Russes do camarote de Misia Godbeska (Misia Sert: Maria Zofia Olga Zenadja Godbeska, 1872-1950, depois Nathanson, James e, finalmente, Sra. José Maria Sert, 1874-1945; v. biografia no Blog:
http://tapeçaria-artedafibra.blogspot.com).

No comments: