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Friday, March 30, 2012

AS VIAGENS DOS BALÉS RUSSOS DA CIA. TEATRAL S. P. DIAGHILEV, DURANTE A I GUERRA MUNDIAL: A TEMPORADA ESPANHOLA; A TEMPORADA ITALIANA; AS DUAS TEMPORADAS NORTE-AMERICANAS; E AS DUAS TEMPORADAS SUL-AMERICANAS (1914-1917).

AS VIAGENS DOS BALÉS RUSSOS DA CIA. TEATRAL S. P. DIAGHILEV, DURANTE A I GUERRA MUNDIAL: A TEMPORADA ESPANHOLA; A TEMPORADA ITALIANA; AS DUAS TEMPORADAS NORTE-AMERICANAS; E A TEMPORADA SUL-AMERICANA (1914-1917).(Continuação).


No segundo semestre, enquanto ocorria a segunda Temporada Norte-Americana (out, 1916-24 fev., 1917), Diaghilev permanecia na Europa junto com Massine e o pequeno grupo de bailarinos escolhidos, a fim de prepararem os balés para a dita, Temporada Italiana. No começo do novo ano todo o grupo se instalou em Roma, onde a troupe se encontrou com André Derain, Jean Cocteau e Pablo Picasso, preparando em conjunto os novos balés que estreariam todos com coreografia de Leonid Massine na balés que estreariam : A Boutique Fantástica, Parada e Mulheres de Bom Humor,. Desta vez a temporada principal européia estreava em Roma, sendo, em seguida, apresentada em Paris e Londres.(1917).

Para a dita, Temporada Italiana, Diaghilev preparou com os poucos integrantes que tinha na Europa o balé com coreografia de Léonid Massine, libreto de Goldoni, música de Domenico Scarlatti orquestrada por Vincenzo Tommasini: Mulheres de Bom Humor [Donne de Buon Umore], que estreou com cenários e figurinos de Léon Bakst e sucesso, no Teatro Costanzi (Roma, 12 abril, 1917). Na mesma data e local estreou o balé A Boutique Fantástica [La Boutique Fantasque], igualmente com coreografia de Léonid Massine, cenários e figurinos de André Derain e música de Ottorino Respighi adaptada de tema de Rossini. Estreou também Parada [Parade], com libreto de Jean Cocteau, coreografia de Léonid Massine, cenários e figurinos de Pablo Picasso e música de Erik Satie. Todos os novos balés foram encenados com poucos bailarinos: Parada com apenas oito personagens. Ocorreram alguns desentendimentos entre os colaboradores desse balé: os barulhos que Cocteau desejava inserir na música de Satie, como de motores de avião e buzinas de automóveis, entre outros, foram eliminados, menos o da sirene e da máquina de escrever, inseridos na orquestra. No entanto, o resultado obtido foi suficiente para chocar a audiência. No programa a descrição da Parada:


A decoração representa Paris em um domingo. Teatro itinerante. Três números de music-hall encenados como a parada. O pretidigitador chinês. A menininha Americana. Acrobatas. (SHEAD, 1989: 89).
Vários dos desenhos preparatórios de Picasso para esse balé, bem como reproduções de vários figurinos se encontram com suas fotografias reproduzidas no Catalogue Raisonné de Picasso (CACHIN & MINERVINO, 1977: 879-893).

Esse ano, apesar das restricões, foi atarefado e muito criativo para a Cia Teatral S. P. Diaghilev, que, certamente mudou de rumo, e avançou na modernização da companhia com o concurso das mentes criativas de Pablo Picasso, Mikhail Larionov, Natália Gontcharova, Léonid Massine e dos músicos Stravinski e Erik Satie, entre outros.

Devido a indicação de F. T. Marinetti, nessa Temporada Italiana, os Ballets Russos encenaram música de Stravinski com cenografia Futurista de Giacomo Balla (1871-1958). O Balé Mecânico Fogos de Artifício [L’Ucello di Fuoco], foi apresentado com a música homônima de Igor Stravinski (dur. 4´), no Teatro Costanzi (Roma, 17 abr., 1917). Os desenho do cartaz do espetáculo, dito, Primeiro Cenário Plástico do Futurista Balla [Primo Scenario Plastico dal Futurista Balla], se encontra reproduzido (ATTI & FERRETI, 1990).

O artista plástico italiano Balla, vinha desenvolvendo com Fortunato Depero (1892-1960), idéias de Marinetti e Umberto Boccioni (1882-1916). A obra de arte como presença e ação em objetos escultóricos, incluía novos materiais como fios coloridos, fios elétricos, papeis coloridos, vidros coloridos, celulóide, tecidos, espelhos, materiais transparentes de todos os tipos e cores, água, liquidos quimicos luminosos, vidros tranparentes, entre outros elementos associados a motores elétricos e artefatos mecânicos voltados para a produção de movimentos. Na época, Depero e Balla estavam desenvolvendo proposta de Brinquedo Futurista com motor-barulho-concerto-plástico-espacial: e, além disso, os Futuristas propunham roupas transformáveis e edifícios transformáveis, na mais completa transformação barulhenta do universo proposta através de vários Manifestos Futuristas que culminaram com o da Reconstrução Futurista do Universo (HULTEN, 1983: 425).

Balla criou o Manifesto dos Pintores Futuristas e Agitadores Educados, assinado por Umberto Boccioni, Carlo Carrà, Gino Severini e Luigi Russolo e divulgado em Roma (11 abr., 1910). Depero escreveu o manifesto da Reconstrução Futurista do Universo [Riconstruzioni Futurista dell’ Universo], posteriormente reformulado e assinado com Giacomo Balla (11 mar., 1913) (HULTEN, 1986: 549-551).

Balla estudou os efeitos das vibrações luminosas azuis, violetas, vermelho verde - as cores próprias de seu edifício de madeira e tecido - assimétricos e rítmicos como as notas da música de Stravinski. Para a composição Abstrata que deveria ser apresentada durante menos de cinco minutos, Balla criou sobre a estrutura cenográfica movimentos de luz e sombra variados - formas fugazes, sobre forma estática - que deveriam suscitar no espectador a mesma reação estupefaciente e maravilhada da explosão animada de fogos de artifício. Um jogo de grande efeito no qual, pela primeira vez, a cenografia foi o espetáculo: a centralização da idéia teatral esteve concentrada no único movimento da breve explosão luminosa, de efeito agudo e estridente, que sublinhou e traduziu sons musicais na eufórica aparição da força primordial do fogo - através da formalização teatral e da transfiguração do real ao abstrato. Na ocasião, a obra estreou sem bailarinos, com a música ilustrada somente com efeitos de iluminação, além de outros, produzidos por várias criações fantásticas de Balla com máquinas mecânicas. Os desenhos e estudos do Futurista italiano para a cenografia dessa obra (1915-1917), se encontram no acervo da Galeria de L'Obelisco, em Roma (ATTI & FERRETI, 1990).

Balla colocou seu talento a serviço de outras encenações da Cia Teatral S. P. Diaghilev como para O Jardim Zoológico [Il Giardino Zoologico], balé que ofereceu para Diaghilev, mas que nunca foi encenado. E para O Canto do Rouxinol [Il canto dell'usignolo], com música de Stravinski, que seria encenado com cenários de Fortunato Depero e desenho de figurinos dele, Balla. No entanto, a reencenação deste balé foi apresentada pelos Ballets Russes na temporada anual parisiense (1916), com cenários do artista espanhol Pedro Pruna, figurinos de Léon Bakst, coreografia de Leonid Massine e música reformulada por Stravinski (v. biografia). Os desenhos de figurinos de Balla para esse balé se encontram reproduzidos (ATTI & FERRETTI, 1990).

O espetáculo que Jean Cocteau definiu como Balé Realista [Ballet réaliste], Parada [Parade], com argumento dele, Cocteau, cenários e figurinos de Pablo Picasso, coreografia de Léonid Massine e música de Erik Satie, estreou em Roma (12 abril); e, em seguida, foi apresentado em Paris (18 maio, 1917). Na capital francesa o público reagiu violentamente, revoltado com a natureza circense e acrobática da Parada. Guillaume Apollinaire, presente à estréia do espetáculo e autor dos comentários entusiasmados do programa onde publicou o artigo Parade et l'Esprit Nouveau [Parada e o Novo Espírito], apresentou-se no palco com sua cruz de herói de guerra e a bandagem negra sobre um de seus olhos, tentando acalmar os ânimos do público. Parada recebeu os aplausos somente de pequena elite intelectualizada, mas obteve sucesso de escândalo devido a seu ineditismo. O balé partiu com os Ballets Russes para ser encenado em Londres, onde foi bem sucedido, o que levou-o a permanecer um ano em cartaz (1918-1919). Diaghilev reencenou outras vezes Parada, durante quase uma década (1917-1926).

O balé especialmente preparado para o palco italiano foi Mulheres de Bom Humor [Donne de Buon Umore], comédia de costumes com argumento de Goldoni, musicada com a Sonata de Domenico Scarlatti, adaptada por Vincenzo Tommasini. Os cenários e figurinos foram de Léon bakst; e, para criar a coreografia, Léonid Massine estudou documentos do século XVIII, época na qual o balé foi ambientado. O terceiro balé apresentado na Itália foi As Meninas [Las Meniñas], que estreou anteriormente na Temporada Espanhola, no qual apresentaram-se apenas cinco bailarinos com coreografia de Massine, costumes e cenários de Léon Bakst (Roma, 12 abril, 1917), balé reapresentado, décadas depois, pelo Balé Real[Royal Ballet] (Londres, 1962).

A adaptação do balé Kikimora (Liadov; v. biografia no meu Blog: http://arterussaesoviética.blogspot.com), apresentado anteriormente pelos Balés Russos (1912), foi agora absorvido pelo balé nomeado de Contos Russos [Contes Russes], que recebeu nova coreografia de Léonid Massine e cenários e figurinos de Mikhail Larionov, sendo a primeira apresentação no Teatro San Carlo (Nápoles, 1917). Em seguida, todos os balés citados, Mulheres de Bom Humor (Scarlatti/ Tommasini), Contos Russos (Liadov), A Boutique Fantástica (Rossini/ Respighi), Parada (Satie), bem como a reapresentação de O Pássaro de Fogo (Rimski-Korsakov), estrearam na temporada parisiense com ensaio geral (11 maio, 1917). O balé Parada [Parade], foi apresentado em Paris (18 maio, 1917; v. detalhe na biografia de Pablo Picasso, em Postagens antigas).

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