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Friday, March 30, 2012

HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).


AS VIAGENS DOS BALÉS RUSSOS DA CIA. TEATRAL S. P. DIAGHILEV, DURANTE A I GUERRA MUNDIAL: A TEMPORADA ESPANHOLA; A TEMPORADA ITALIANA; AS DUAS TEMPORADAS NORTE-AMERICANAS; E A TEMPORADA SUL-AMERICANA (1914-1917).

Depois da bem sucedida temporada européia no primeiro semestre de 1914, logo no início da I GM - I Guerra Mundial, Diaghilev e pequeno grupo de fiéis associados refugiou-se em Lausanne (Suíça). Um dos diletos amigos de Diaghilev, o artista das vanguardas russas Mikhail Larionov, oficial do exército russo, voltou a seu país depois de expôr com Natália Gontcharova na Galeria Paul Guillaume (Paris, 1914). A apresentação no catálogo da exposição da dupla de vanguardistas russos foi de Guillaume Apollinaire (v. biografia). Larionov e Gontcharova haviam acompanhado a Cia. Teatral S. P. Diaghilev a Paris, logo no alvorecer da I GM.

Gontcharova permaneceu com a troupe quando esta se transferiu para o território neutro da Suíça, mas Larionov voltou à Rússia, e foi enviado ao front de batalha: gravemente ferido, passou meses internado em hospital russo, quando foi visitado por Ossip Brik, futuro burocrata importante para as vanguardas artísticas soviéticas depois da Revolução Russa, visita que se encontra documentada em fotografia publicada (KRENS, 1992).

Dispensado do exército, Larionov reuniu-se na Suíça aos remanescentes dos Balés Russos; e acompanhou a troupe nas excursões à Espanha (maio, 1916). No mesmo ano Diaghilev organizou para seus Balés Russos duas turnês na América do Norte e duas turnês na América do Sul, e, ao mesmo tempo realizou na Europa a dita, Temporada Espanhola (maio, 1916), seguindo-se no ano seguinte a Temporada Italiana (abril, 1917), e a parisiense (maio, 1917). A companhia dos Ballets Russes, dividiu-se para atender simultâneamente a tantos compromissos: parte da companhia que voltou a Europa com Diaghilev, antes realizou com poucos bailarinos a dita, Temporada Espanhola (maio, 1916).

Nesse período da I Guerra Mundial, a Cia Teatral S. P. Diaghilev permaneceu dividida, dispondo de recursos moderados. Assim sendo, apesar de cumprir o compromisso com o Rei da Espanha, Diaghilev preparou somente um novo balé. Massine estava sendo treinado como coreógrafo; e Igor Stravinski e Sergei Prokofiev preparavam músicas para novos balés que estreariam depois do término da I GM. Diaghilev aproveitou para recrutar outros bailarinos em Escolas de Dança, que estavam sendo preparados para as próximas temporadas européias.

Foram curtas as apresentações na dita, Temporada Espanhola. Parte da Cia Teatral S. P. Diaghilev chegou em Cádiz, e se apresentou para o Rei de Espanha Alfonso XIII e sua família. Foi apresentados o novo balé: As Meninas [Las Meniñas], com cenários do italiano Carlo Socrate, figurinos de Misia Sert (v. biografia, nas Postagens Antigas), coreografia de Léonid Massine e como música a conhecida Pavane, de Gabriel Fauré. A nova estrela masculina polonesa, Tadeusz Idizikowski, dançou no papel do Gato, em Madri (26 maio, 1916). Outro balé apresentado foi Kikimora (Liadov), que havia estreado anteriormente (Paris, 1912). A troupe européia fez intervalo, mas antes se apresentou no Teatro Real da residência de verão da Corte Espanhola (San Sebástian, 1916). O Rei de Espanha apreciou os espetáculos e se mostrou generoso para com Diaghilev, quando os Ballets Russes necessitaram de recursos emprestados, posteriormente, na fase mais difícil da vida da Cia. Teatral S. P. Diaghilev (1918).

Quando Diaghilev estava preparando a primeira Temporada Americana, arranjada pelo Metropolitan Opera House, ele precisava desesperadamente da arte de Vaslav Nijinski, que estava internado em clinica para doentes mentais. O empresário fez esforços consistentes para retirá-lo de lá, o que acabou conseguindo, mas não a tempo de usar a arte de Nijinski na estréia da temporada americana, conforme rezava o contrato.

Antes da companhia partir para a primeira turnê nos Estados Unidos realizou-se a primeira récita européia do balé O Sol da Noite [Le Soleil de Nuit], dançado por bailarinos e bailarinas no papel de camponeses russos com música de Nicolai Rimski-Korsakov, cenografia e figurinos de Mikhail Larionov e coreografia de Léonid Massine. O balé alcançou certo sucesso e realizou-se outra récita beneficente, em matinê, na Ópera de Paris (Paris, dez., 1915).

A companhia partiu de navio (Bordeaux-Boston) e chegou à América (11 jan., 1916). A primeira Temporada Norte-Americana estreou no Teatro Century (Nova York, 17 jan.). Os Ballets Russes apresentaram quatro espetáculos: o Pas de deux do Pássaro Azul, de A Bela Adormecida (Tchaikowski - Stravinski); O Pássaro de Fogo, O Sol da Noite e Shéhérezade, todos com música de N. Rimski-Korsakov. Os espetáculos encenados nos palcos americanos foram complementados com outros balés: Petruschka (Stravinski), O Espectro da Rosa (R. Hahn), Cleópatra (Arenski), Narciso (Tcherepinin). Todos haviam estreado nos palcos europeus(v.).

A recepção do público norte-americano foi calorosa, mas apontou deficiências, pois a companhia que viajou carecia de grandes estrelas dançando no conjunto bem treinado e integrado, mas que apresentava repertório pequeno, com poucos balés na bagagem. A troupe de Diaghilev dançou em Boston, Albany, Detroit, Chicago, Cinccinati, Cleveland, Pittsburg, Washinghton, Filadélfia, Milwaukee, Mineápolis e Kansas City, entre outras cidades. A recepção afinal resultou apoteótica e, de volta à Nova York, a companhia apresentou-se no Metropolitan Opera House (Nova York, 3 abril, 1916).

Vaslav Nijinski finalmente estava a caminho, mas não havia chegado ainda. Esse fato ocasionou a quebra de contrato, quando iniciou-se disputa comercial acirrada. Nijinski chegou finalmente, mas somente pôde dançar depois do dia 12 de abril. O bailarino apresentou-se no balé Petrushka (Stravinski), bem sucedido; e no balé romântico europeu O Espectro da Rosa [Le Spectre de La Rose] (Reynaldo Hahn). Nesse espetáculo o público americano considerou Nijinski efeminado e não gostou. Todas as apresentações foram bem sucedidas, exceto por Narciso [Narcisse] (Tcherepnin), balé pouco compreendido pelo público americano que considerou-o cômico, quando não era.

Devido ao sucesso geral da temporada americana dos Balés Russos, Otto Khan, diretor do Metropolitan Opera House solicitou a Diaghilev a segunda Temporada Norte-Americana. No entanto o empresário precisava cumprir o compromisso europeu assumido anteriormente com o Rei da Espanha Alfonso XIII; ele viajou com parte da companhia. Voltaram à Europa junto com Diaghilev, Massine, Tchernicheva, Woizikowski e Idzikovski, mas, infelizmente, o empresário resolveu deixar Nijinski encarregado da operação sul-americana, o que provou futuramente ter sido a decisão errada, pois resultou em verdadeiro desastre. Os Ballets Russes viajaram de navio com Nijinski, para a primeira Temporada Sul-Americana: dançaram no Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires. No repertório, os balés O Pássaro de Fogo (Rimski-Korsakov-Stravinski) e Petruschka (Stravinski), além de Cleópatra (Arenski), apresentado na primeira temporada dos Balés Russos (Paris, 1909; v.).

Parte da companhia que, no primeiro semestre voltou a Europa acompanhando Diaghilev, no segundo semestre participou da segunda Temporada Norte-Americana (16 out., 1916 - 24 fev., 1917). Diaghilev preparou especialmente para Nijinski dançar o novo balé Till Eulenspiegel, com música de Richard Strauss, cenografia e figurinos do pintor americano Robert Edmond Jones que ficou fora das medidas do palco, mas que estreou assim mesmo, pois foi dobrada a parte inferior do pano de cena. Para ocultar o problema cenográfico, Nijinski, que dançou no papel do rebelde Till, resolveu apresentar esse balé a meia-luz, o que resultou em efeito sensacional (23 out., 1916). Jones pintou no cenário, imensa quantidade de telhados de casas em ângulos inusitados, mostrando a cidade medieval na terra de sonhos. O balé experimentou relativo sucesso (SHEAD, 1989: 84).
Nijinski acompanhou parte da Companhia Teatral S. P. Diaghilev na primeira temporada na América do Sul (out., 1916), mas foi ao encontro de parte da companhia que excursionava na América. Segundo SHEAD (1989; 84),Nijinski participou da segunda Temporada Norte-Americana pois dançou em Nova York (23 out., 1916). No ano seguinte, esteve no Brasil, pois, segundo ÂNGELO (1998):

[...] o programa especial completo apresentado para a Sociedade de Cultura Artística, na segunda-feira (3 set., 1917). Nijinski esteve em São Paulo pois visitou com Rômola de Pulszki o Instituto Butantã. […] 

Na Temporada Norte-Americana prolongada, os Ballets Russes apresentaram-se no Texas, Oklahoma, Missouri, Nebraska, Iowa, Colorado, Utah, Califórnia, Seattle, Washinghton, Tennessee e Kentucky; também apresentaram-se em Vancouver (Canadá), voltando para a costa leste, onde realizaram a última apresentação norte-americana (out., 1916 - 24 fev., 1917).

Nesse segundo semestre ocorreu o desastre mais grave para a companhia de S. Diaghilev: o casamento de sua principal estrela, o bailarino Vaslav Nijinski com a húngara Rômola de Pulszki, realizado antes mesmo de o navio chegar a seu primeiro destino sul-americano (1 set., 1916). O jovem bailarino, que fôra amante de Diaghilev, posteriormente ficou alienado e passou o resto da vida internado em instituições européias para doentes mentais.

Nesse primeira Temporada Sul-Americana dos Ballets Russes, Diaghilev programou para repetir no Brasil parte do mesmo programa de estréia da Cia. Teatral S. P. Diaghilev (Paris, 1909). Convidados pela Sociedade de Cultura Artística, os Ballets Russes se apresentaram no Theatro Municipal (São Paulo, 1917). A estréia apresentou nada menos do que quatro programas: na primeira parte os bailarinos dançaram várias peças avulsas de compositores russos e franceses, com as canções populares russas, participantes do balé Contos Russos, com cenários e figurinos de Mikhail Larionov: Canto de Natal [Chant de Nöel], Queixume [Complainte] e Coração Dançante [Coeur Dansé], de A. Liadov; a Ronda das Princesas [Ronde des Princesses], do balé O Pássaro de Fogo [L' Oiseau de Feu], de Rimski-Korsakov; o Prelúdio do Entardecer de un Fauno [Prélude de l'Aprés midi d'un faune], de Claude Debussy; a terceira parte da sinfonia Antar, intitulada por Diaghilev, As Delícias do Poder [Les délices du Pouvoir], de Nicolai Rimski-Korsakov.

Constou da segunda parte do programa o balé O Carnaval dos Bichos [Carnaval des Biches], com música de Richard Schuman, instrumentada por N. Rimski-Korsakov, A. Liadov e N. Tcherepnin, balé com coreografia de Michel Fokine, cenários e figurinos de Léon Bakst. Nesse balé destacaram-se as estrelas da companhia: Lidia Lopokova (Colombine), Lubov Tchernicheva (Chiarina), Alexandra Wasilewska (Estrella), Radina (Papillon), Stanislas Idizikowski (Arlequin), Statkiewicz (Pierrot), W. Worontzow (Eusebius), Enrico Cecchetti (Pantalón) e M. Pianowski (Florestan). O balé apresentou ainda outros bailarinos na apresentação da Valsa Nobre [Valse Noble].

Na terceira parte do programa foi apresentado o balé Thamar, dito, Drama coreográfico em um ato de Léon Bakst, com música de Milli Balakirev (v. Grupo dos Cinco compositores russos). Os cenários foram de Charbey, e os figurinos de Muelle; dançou a estrela Lubov Tchernicheva como Thamar, Rainha da Geórgia, e M. Pianowski no papel principal do Príncipe, quando vários bailarinos dançaram nos papéis dos amigos, criados e servos da rainha. Vários outros bailarinos desempenharam os papéis dos Lezghins, sendo os mais conhecidos as verdadeiras estrelas masculinas dos Balés Russos: Nicolas Zverev, Stanislas Idizikowski e Leon Woizikowski.

A quarta e última parte do programa paulista mostrou as Danças Polovtisianas do Príncipe Igor, com música de Borodin, coreografia de Michel Fokine e cenários e figurinos atmosféricos de Nicolas Roerich. O bailarino Zverev foi o principal Chefe Guerreiro e Idzikowski e Woizikowski dançaram no papel dos Jovens Polovetsianos. Os cenários de Thamar (Bakst), bem como os cenários e figurinos do Príncipe Igor (N Roerich), se encontram reproduzidos (SHEAD, 1989: 54-55; 26-27). Diaghilev trouxe ao Brasil a companhia completa, com mais de cinquenta bailarinos. Para quem viu os espetáculos e para a crítica de arte dessa época, foram balés inesquecíveis. Declarou ÂNGELO (1998):




A estréia do balé russo foi elogiadíssima. Tem-se a impressão de sonhar - mas de sonhar sonhos perfeitos, disse o crítico de O Estado de São Paulo. O renomado maestro suíço Ernest Ansermeet foi quem regeu a orquestra; o balé apresentou-se em várias récitas no Theatro Municipal de São Paulo, destacando-se o programa especial completo apresentado para a Sociedade de Cultura Artística, na segunda-feira (3 set., 1917) […]


No Rio de Janeiro ocorreu o desastroso incêndio que resultou na perda total do cenário do balé Cleópatra, que re-estreou posteriormente com cenários renovados de Robert Delaunay e figurinos de Sonia Delaunay (Londres, set. 1918; continua, v. abaixo).


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