Translate

Sunday, April 29, 2012

DÉCIMA SEGUNDA PARTE REFORMULADA DA HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS


[BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).

Temporada: 1926.


A temporada anual anterior não foi das mais auspiciosas para os Ballets Russes: o fracasso ocorreu na Alemanha (Berlim, 1925). No começo do ano seguinte a Cia. Teatral S. P. Diaghilev reuniu-se, como usualmente em Monte Carlo (1911-), preparando os novos balés para a temporada parisiense: Romeu e Julieta [Romeo and Juliet] (Lambert/ Max Ernst - Joan Miró); A Pastoral [La Pastorale] (Bóris Kochno/ Georges Auric); João na Caixa [Jack in the Box] (Erik Satie). No final do segundo semestre estrearam Barabau (Balanchine/ Rieti) e o balé dito, inglês, O Triunfo de Netuno [The Triumph of Neptune](Lord Beners), que estrearam na Inglaterra em temporada prolongada no Teatro Coliseum (Londres, 26 out. - dez., 1926).

 
Na época, Diaghilev havia sido abandonado pessoal e profissionalmente por seu principal coreógrafo, o bailarino russo Leonid Massine, demitido; ele buscou Bronislava Nijinska, irmã de Vaslav Nijinsky, para substituí-lo como coreógrafa da Cia. Teatral S. P. Diaghilev.

Balé Romeu e Julieta [Romeo and Juliet] (Christian Lambert).

Bronislava Nijinska concordou em voltar e coreografar o novo espetáculo, criado especialmente para os palcos ingleses, mas que estreou em Monte Carlo (1926). A versão de Adão e Eva, com música do inglês Christian Lambert, que Diaghilev trocou de nome para Romeu e Julieta [Romeo and Juliet]. Para desenhar os cenários e figurinos, foi sugerido, entre outros, o nome do vanguardista inglês Windham Lewis; mas Diaghilev optou pelos artistas Max Ernst e Joan Miró, do Grupo do Surrealismo, movimento lançado recentemente em Paris (1924-).

O tema escolhido para o libreto de Jean Cocteau foi baseado livremente na obra de Shakespeare, modernizada. Um casal de bailarinos ensaiava o balé Romeu e Julieta, dançado em trajes comuns de malha. Tamara Kasarvina, a bailarina adorada pelos franceses e, principalmente pelos ingleses, dançou no papel de Julieta, par principal do bailarino russo Serge Lifar (Romeu). No final os amantes na vida dita, real, fogem em aeroplano. Infelizmente nunca tivemos oportunidade de ver publicadas as imagens da cenografia, figurinos e coreografia para este balé, que permanece para nós completamente desconhecido.

Lambert (v. biografia) detestou os cenários e figurinos quando foi assistir ao último ensaio do balé, que estreou em Monte Carlo. Diaghilev ficou irredutível quanto às mudanças desejadas pelo músico, e o balé moderníssimo estreou conforme programado (4 maio, 1926). Esse espetáculo participou da temporada parisiense, realizada no Teatro Sarah Bernhardt (Paris, 18 maio). Nessa estréia foram ouvidas muitas vaias dirigidas por grupo de Surrealistas, liderados pelo escritor Louis Aragon, que não aceitou a adesão por parte de Ernst e Miró daquilo que o grupo percebeu como a capitulação dos cenógrafos e figurinistas ao detestado capitalismo. A publicidade gerada pelo episódio somente solidificou o sucesso de escândalo desse balé.

Balé João na Caixa [Jack in the Box] (Erik Satie).

Satie faleceu (1925); pouco depois S. Diaghilev montou o balé João na Caixa [Jack in the Box], musicado com três danças que Satie escreveu no final do século XIX (1899). Darius Milhaud orquestrou-as, em homenagem a seu antigo mestre. A coreografia foi de Georges Balanchine, que destacou o virtuosismo de Taddeusz Idzikowski que dançou com as bailarinas Alexandra Danilova, Félia Dubrovska e Lubov Tchernicheva.


Balé A Pastoral [La Pastorale](Georges Auric).

Os Ballets Russes montaram A Pastoral [La Pastorale], balé com libreto de Bóris Kochno, sendo a música encomendada a Georges Auric (v. Grupo dos Seis), com cenários e figurinos de André Derain e coreografia do russo Georges Balanchine. Esse espetáculo destacou o virtuosismo de Léon Woizikowski que dançou com o apoio das bailarinas Félia Dubrovska e Lubov Tchernicheva.

Balé Barabau (Rietti).

O jovem Ottorino Rieti havia encontrado Diaghilev em Veneza, e foi contratado para transformar músicas existentes em balé com coral. Os cenários e figurinos foram do pintor francês Maurice Utrillo. Rieti saiu-se bem, produzindo música influenciada por Stravinsky; a coreografia foi de George Balanchine. O balé com coral Barabau, que agradou a audiência inglesa, estreou em Londres (11 dez., 1926).


Balé O Triunfo de Netuno [The Triumph of Neptune](1926).

Essa temporada anual montou o balé dito, inglês, O Triunfo de Netuno [The Triumph of Neptune], Pantomima Inglesa em Dez Quadros [English Pamtomime in Ten Tableaux], com libreto de Sacheverell Sitwell, música de Lord Berners, coreografia de George Balanchine. Essa evocação Vitoriana recebeu cenografia do espanhol Pedro Pruna, com execução dos cenários e figurinos pelo príncipe Schervashidze, que adaptou as gravuras vitorianas que inspiraram os figurinos. Depois de muita confusão a temporada londrina foi inaugurada no grande Teatro Coliseum, com capacidade para três mil espectadores (3 de nov., 1926). Os esforços de todos foram bem recompensados, pois esse balé que  colocou em cena cinquenta bailarinos liderados pelas grandes estrelas dos balés russos, Alexandra Danilova, Serge Lifar, Lidia Sokolova, Lubov Tchernicheva, Stanislas Idzikowski, Taddeusz Slavinski e Léon Woizikowski. Alguns bailarinos se desdobraram em vários papéis. Danilova foi muito bem recebida e se transformou, da noite para o dia, na estrela dos palcos ingleses, pois os críticos britânicos adoraram sua atuação nesse balé. Algumas fotografias posadas dos bailarinos, com Danilova e Lifar, e a dupla junto com o compositor Lord Berners, outra com Lifar sozinho e Danilova na frente dos cenários pintados, usando figurinos nada excepcionais, se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989; 146-149).


Balé As Núpcias: Cenas coreográficas russas com canto e música (Paris, 1917; 1923; Londres, 1926; 1936; Royal Ballet Revival, Londres 50 anos depois, 1966). São Paulo, 2009.


Stravinsky compôs a música para o balé As Núpcias: Cenas coreográficas russas com canto e música, que apresentou coro em quatro partes com solistas soprano, mezzo-soprano, tenor e baixo, além de orquestra. O balé Les Noces estreou com os Ballets Russes (Paris, 1917), e foi reapresentado no Teatro Gaieté Lyrique (Paris, 13 jun., 1923). Nessa segunda apresentação, Stavinsky completou a música com o uso de coro e solistas vocais, quatro pianos e muita percurssão, quando a orquestra foi conduzida pelo maestro Ernest Ansermet e apresentou os músicos George Auric, Édouard Léon, Hélène Léon e Marcelle Meyer ao piano (1923). Na reestréia (Londres, 1926; Royal Ballet Revival, Londres 50 anos depois, 1966), com nova cenografia da artista plástica Natalia Gontcharova (1881-1962), os figurinos foram criados com a colaboração de Vaslav Nijinski (1889-1950), com a coreografia de sua irmã, a bailarina e coreógrafa Bronislava Nijinska (1891-1972). Na sua versão final para orquestra completa, a música que Stravinsky compôs para o balé As Núpcias: Cenas coreográficas russas com canto e música, foi dedicada a Sergei Diaghilev, quando dois instrumentistas tocaram o instrumento indiano de cordas Cimbalon. A música foi reapresentada com a orquestra sendo conduzida pelo maestro Eugene Goossens, no Teatro Her Majesty (Londres, 1926). Nessa ocasião os quatro pianistas foram, Georges Auric, Francis Poulenc, Vittorio Rietti e Vladimir Dukelsky. Este balé foi reapresentado no Festival Stravinsky (Nova York, 1972).


 

No comments: