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Sunday, May 13, 2012

DÉCIMA QUINTA PARTE DA HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS

[BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEY PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).

Temporada: 1929.

Balé: O Filho Pródigo [Le Fils Prodigue] (Sergey Prokofiev).

O novo espetáculo da companhia foi O Filho Pródigo [Le Fils Prodigue], idéia de Bóris Kochno que se recordou do conto O Diretor do Correio [Le maître de poste] de Alexandre Pushkin, publicado na antologia Contos de Ivan Petrovich Belkin. Nesse conto a história do viajante que parou na estalagem de beira de estrada, e, enquanto tomava chá, viu nas paredes a história do filho pródigo, através de várias gravuras inspiradas na Biblia.

Diaghilev convidou Henri Matisse para desenhar os cenários e figurinos desse balé, mas recebeu sonoro não, o que levou-o à convidar Georges Rouault (1871-1958). O cenário atmosférico da cena I encontra-se reproduzido (SHEAD, 1989). Esse foi o único cenário de balé realizado por Rouault para os Balés Russos; foi difícil conseguir a reprodução exata dos desenhos, realizados para o palco pelo príncipe Aleksandr Konstantinovich Schervashidze (Chachba, 1867-1968). Os figurinos, com acessórios sofisticados, foram desenhados por Mlle. Chanel, mas realizados por Vera Sudeikina, que, anos mais tarde, depois de enviuvar de Sergey Sudeikin tornou-se a Sra. Igor Stravinsky. A coreografia foi do russo Georges Balanchine, que no ano precedente coreografou O Baile [Le Bal] (SHEAD, 1989). Posteriormente Balanchine levou sua arte para a América, onde realizou novas parcerias com Stravinsky, que conheceu através da Cia. Teatral S. P. Diaghilev.

O balé O Filho Pródigo (1929) foi sucesso; dançou, como estrela principal, Serge Lifar. Outros papéis foram assumidos por Félia Dubroska, Anton Dolin e Léon Woizikowsky (Os amigos) e Mikhail Fedorov (O pai). O balé participou da última temporada dos Ballets Russes de Sergey Diaghilev, realizada no Teatro Sarah Bernhardt (Paris, 21 maio, 1929).

Diaghilev encomendou a música a Sergey Prokofiev, mas não gostou da primeira composição: o músico refez a obra. A versão final da música agradou ao exigente promotor do balé O Filho Pródigo (1929), considerada a melhor entre todas as músicas que Prokofiev compôs para os Balés Russos. Várias fotografias, do cenário de Rouault, de Lifar, de Danilova, de Lifar fazendo par com Dubrovska e de Lifar com Fedorov, se encontram reproduzidas (SHEAD, 1989: 170-173). Esse, que foi o último balé encenado por S. Diaghilev, foi também um dos mais belos do repertório dos Ballets Russes.

O FINAL: AGOSTO, 1929.

Diaghilev tornou-se diabético, apresentando forma grave da doença; seu médico particular instou para que o empresário descansasse e seguisse a dieta. Diaghilev rebelou-se e foi viajar, percorrendo a Alemanha e Áustria com seu mais novo e jovem amante, o músico e pianista russo Serge Markevitch. O último espetáculo de balé de sua companhia a que o empresário compareceu foi a Noite de Gala, em honra ao Rei Fuad do Egito, realizada no Teatro do Covent Garden (Londres, 24 jul., 1929). A última récita da companhia foi em Vichy (4 agosto, 1929).

O empresário continuou viajando e chegou para sua temporada anual no Grand Hotel des Bains (Lido, Veneza, 8 ago.). Diaghilev sentiu-se mal: ele mandou chamar Misia Sert e Coco Chanel, que deixaram o passeio que realizavam no iate The Flying Cloud [A Nuvem Voadora], pertencente ao Duque de Westminter, para visitarem seu velho amigo em Veneza. As visitantes encontraram o empresário deitado na cama do hotel envergando seu melhor traje formal, elegante Dinner-Jacket. Nos últimos momentos de Sergey Diaghilev estavam presentes o bailarino Serge Lifar, que se postou a seu lado e seu dileto assessor, Bóris Kochno. O grande empresário faleceu de complicações do Diabetes, no domingo (19 agosto, 1929). Foram feitos arranjos para o translado do corpo para o funeral parisiense: o grande empresário, músico, artista, esteta e administrador, foi enterrado no cemitério russo da Îlle Saint-Michel (Paris, 1929).

Diaghilev não deixou herdeiro capacitado para levar adiante sua Companhia Teatral, que fechou as portas. O acervo, cenários e figurinos foram vendidos, e os bailarinos buscaram colocações em outras companhias. Foi o final de gloriosa era para as vanguardas artísticas do mundo da música, da dança, da coreografia, da cenografia e figurinos; e da influência da arte nas produções da moda e na estética nas primeiras décadas do século XX.


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., p. 523.135p.: il. algumas color. - notas gerais – inclui índices; cronologia 23,5 x 31 cm, pp. 85, 127.

CATALOGUE RAISONNÉ, CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'oeuvre peint de Picasso, 1907-1916. Introduction par Françoise Cachin; documentation par Fiorella, Minervino. Paris: Flammarion, 1977.

PEREIRA, R. Tatiana Leskova: nacionalidade bailarina. Série Memória do Teatro Municipal. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura, FUNARTE, Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 2001, pp. 49, 52.

SHEAD, R. Ballets Russes. Secaucus, New Jersey: Quarto Book, Wellfleet Press, 1989. 192p.: Il,.algumas color., 25 x 33 cm, pp. 74, 81-86, 95-96, 97-99, 107, 151, 154-157, 167, 183.

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