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Thursday, August 16, 2012

GLOSSÁRIO: TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL): COLAGEM (Paris, 1912-1921; Milão.1910-1944; Moscou, 1922-).





TÉCNICAS NA ARTE (INTERNACIONAL): COLAGEM (Paris, 1912-1921; Milão.1910-1944; Moscou, 1922-).

O procedimento técnico da Collage [Colagem], começou na arte das vanguardas ocidentais com a obra Cubista de Pablo Picasso que colou pedaço de oleado reproduzindo a palhinha de uma cadeira sobre a tela de sua obra A La Chaise Canée [À cadeira de palhinha] (1912). Picasso percebeu logo que ali estava a solução estética e saída original para a sua evolução pictórica Cubista. Desta forma o artista prosseguiu colando nas suas telas materiais descartados como papel impresso de rótulos de bebidas (Vieux Marc, por ex.), papelão, galões de passamanaria, entre outros materiais inusitados, até então nunca integrados à arte de vanguarda.


 
Os Futuristas italianos receberam a influencia das colagens de P. Picasso e empregaram logo a Colagem nas suas obras: Boccioni colou pedaços de jornais nas obras Dinamismo da Cabeça de um Homem (1914), e Carga de Lanceiros (1915), esta realizada um ano antes dele morrer na Primeira Guerra Mundial (1916). Outro Futurista precurssor, que integrou lantejoulas coladas à sua pintura foi o italiano Gino Severini, que viveu a maior parte da vida em Paris. O artista começou integrando a Colagem às Artes Gráficas e Pintura, antes de integrá-las às técnicas mistas sobre tela. A obra de Severini Natureza morta com caixa de fósforos foi executada no mesmo ano em que o artista começou a sua conhecida sequência de Dançarinas [Danseuses], nas quais colou lantejoulas e aplicou gesso. Em outras obras o artista colou bijouterias, bigodes e tecidos, como no Retrato de Marinetti e no Retrato de Paul Fort. Em outras obras Severini inseriu metal e lantejoulas, como na Dança do Urso = Veleiros e Jarro de Flores (1913); e folhas de jornal na Natureza-Morta (Garrafa, Jarro, Jornal e Mesa, 1914). Várias das colagens de Severini foram perdidas ou destruídas, mas posteriormente, algumas Colagens que amadureceram nas obras do italiano foram mostradas nas revisões críticas do Futurismo e do Cubismo, entre outras.



Outros Futuristas como Ardengo Soffici e Carlo Carrà também executaram seus Papéis colados [Papiers Collés]. Entre as obras de Soffici se destacam Pouca velocidade e Composição com Garrafa Verde. Na obra de Carrà se destacam as colagens Garrafa e Copo; Natureza-Morta com sifão e café nos arredores; e Celebração Patriótica, entre outras. O italiano Enrico Baj, conhecido como mentor do Grupo do Movimento Nuclear (c. 1950; v.), colou pesadas passamanarias e acabamentos têxteis na sua obra pictórica, sem obter resultados plásticos de qualidade superior, como o dos primeiros vanguardistas Cubistas, entre outros. Outro artista Futurista que realizou colagens foi Vinício Paladini.


Durante os anos que viveu em Paris (1919-1926), o artista Georgiano David Kakabadze (1890-1952) foi atraído pelo que chamou de intura Subjetiva: ele dedicou-se àa técnica da Colagem, usando ocasionalmente nas obras pictóricas acrécimos de espelhos e metal, entre outros materiais como vidro colorido de vitral, associado à tinta. Na verdade esse foi o desenvolvimento pessoal da Colagem no Cubismo (v.), escola pela qual o georgiano foi influenciado.



A técnica da Colagem se sofisticou, devido a popularização da Fotografia: as colagens que empregaram fotografias recortadas e coladas sobre papel, associadas a outras técnicas, foram chamadas de Fotomontagens, mas, em essência, essas obras não deixaram de ser colagens. Os Dadaístas alemães se utilizaram da técnica inovadora da Colagem e, principalmente da Fotomontagem (v. Técnicas na Arte: Fotomontagem no Dadaísmo alemão), registrada em centenas de obras do mais ativo deles, John Heartfield, irmão de Wieland Herzefeld, da Editora Malik [Malik Verlag] (v.). O alemão que se autoproclamou anti-dadaísta, Kurt Schwitters, executou extensa obra de estética Dadaísta na técnica de Colagem, todas de pequenas dimensões. Várias obras na técnica de colagem de Schwitters, que nunca usou a fotografia recortada e colada, estiveram com seus originais expostos na mostra individual do artista realizada na Pinacoteca do Estado (São Paulo, 2004).



Max Ernst, artista da Associação dos Artistas Radicais de Colônia (v.), publicou o álbum com oito litografias, encomenda da cidade de Colônia, intitulado Fiat Modes (1919). Ernst foi o primeiro artista desse grupo a expor suas obras em Paris: ele enviou suas colagens originais, adaptação criativa da técnica Dadaísta e que consistia na apropriação do desenho publicitário, todos do século anterior, o XIX. Nessa época os anúncios não empregavam fotografias, eram desenhados; e, quase sempre, os desenhos escolhidos por Ernst reproduziam máquinas ou instrumentos científicos, óticos ou similares, que ele colava sobre papel grosso, completava com desenhos e depois associava a outras gravuras coladas, obtendo misturas gráficas totalmente inusitadas. Algumas de suas Colagens foram executadas junto com Hans (Jean) Arp, entre os mais destacados artistas do grupo Dadaísta, embora o mais discreto; e este conjunto de obras foi intitulado Fatagaga ou Fabricação de quadros gazométricos garantidos [Fabricacion de Tableaux Garantis Gazometriques]. As Colagens de M. Ernst foram celebradas pelo grupo de André Breton, encarregado da montagem da mostra individual do artista, realizada na Galeria Au Sans Pareil (Paris, 1921). O futuro Grupo do Surrealismo (Paris, 1924-1966; v.), ficou entusiasmado com o sentido revolucionário das obras de Ernst, que expunham ligações inconscientes, valorizadas desde então pelos teóricos, escritores e futuros artistas do grupo francês. As obras de Max Ernst, Aqui tudo está flutuando [Hier ist alles in der Schwebe] (Colagem de gravuras fotográficas e lápis, 10,5 cm x 12,2 cm, no acervo do MoMA, Nova York); o Autoretrato ou A Imortalidade de Buonarotti [L´Immortalité de Buonarotti] (c. 1920, fotomontagem, 17,5 cm x 11,5 cm, na coleção Arnold H. Crane, Chicago); e o Massacre dos Inocentes [Massacre des innocents] (1921, colagem, 21,5 cm x 29 cm., coleção particular, Chicago), se encontram reproduzidas (ADES, et al., 1978: 118).


No Grupo (Parisiense) do Surrealismo Internacional Max Ernst se tornou a verdadeira revelação entre os mais proeminentes artistas, reconhecido mundialmente. Ernst não compareceu a inauguração de sua primeira mostra parisiense, mas, depois que foi viver na cidade ele foi convidado a participar das sucessivas publicações editadas pelos Surrealistas. Ernst ilustrou vários livros de poetas como o de Paul Éluard, entre outros, e participou com textos e ilustrações realizadas com Colagens para várias das revistas de André Breton e Tristan Tzara (v.). Ernst lançou vários Livros de Artista, como História Natural (Paris, 1926); Mulher de 100 cabeças (1929; ilustrado com 50 prelúdios musicais de George Antheil), posteriormente dançados por Martha Graham (Nova York, 1930). Outro livro na técnica de Colagem de Ernst foi o Sonho da jovem que queria entrar para o Carmelo, ilustrado com suas colagens eróticas e criativas; e Uma Semana de Bondade [Une Semaine de Bonté], esta apresentada na mostra Max Ernst: Uma Semana de Bondade – Collages Originais – no MASP (23 abr., 2010-). Breton encontrou nas Colagens de Ernst o que, sem saber, buscava: imagens instigantes emanadas do inconsciente, criatividade, cultura, inteligência investigativa e o inconsciente liberado através da arte.



ADES (1978: 54) reproduziu a colagem do artista ítalo-americano Joseph Stella, Gráfica [Graph] (c. 1920, colagem 31,8 cm x 24,10 cm, na coleção de M. & Mrs. Edward R. Hudson Jr.) e a obra do Grupo dos Dadaístas em Colônia (v.) J. Baader e R. Hausmann, Colagem sobre um cartaz [Collage sur un affiche] (c. 1919-1920, colagem sobre cartão, 50 cm x 30,8 cm, coleção particular, Milão) (ADES, 1978: 90).



O alemão Johannes Baader realizou seu Livro de Artista autobiográfico, quase todo executado na técnica de colagem. A Colagem Dada Descartes (1926, colagem, 24 cm x 17, 5 cm, coleção particular, Milão), de Lajos Kassak, entre outras, se encontra reproduzida (ADES, et al., 1978). Marcantes foram as colagens dos artístas do Cubismo (v. as técnicas de Descolagem e Fotomontagem).



REFERÊNCIAS SELECIONADAS:



CATÁLOGO. ADES, D. Dada and Surrealism Reviewed. Introduction by David Syilvester and supplementary essay by Elizabetn Cowling. London: the Authors and the Art Council of Great Britain, Hayward Galleries, 1978.
475p.: il., pp. 54, 90, 96, 100,118.

CATÁLOGO. HULTEN, P. (ORG.); JUANPERE, J.A.; ASANO, T.; CACCIARI, M.; CALVESI, M.; CARAMEL, L; CAUMONT, J; CELANT, G; COHEN, E.; CORK, R.;CRISPOLTI, E.; FELICE, R; DE MARIA, L.; DI MILLIA, G.; FABRIS, A.; FAUCGEREAU, S.; GOUGH-COOPER, J.; GREGOTTI, V.; LEVIN, G.; LEWISON, J.; MAFFINA, F.; MENNA, F.; ÁCINI, P.; RONDOLINO, G; RUDENSTINE, A.; SALARIS, C.; SILK, G.; SMEJKAI, F.; STRADA, V.; VERDONE, M.; ZADORA, S. Futurism and Futurisms. New York: Solomon R. Guggenheim Museum, Abeville Publishers, 1986. 638p.: il, retrs., pp. 454-455, 541.



BARR, A. Cubism and Abstract Art. Harvard: The Belknap Press - Harvard University Press. 2nd ed. New York: Museum of Modern Art, 1986, p. 219.

CACHIN, F.; MINERVINO, F. Tout l'Oeuvre peint de Picasso, 1907-1917. Paris: Flammarion, 1977, pp. 83, 86-87, 101, 102, 528, 529, 530, 781, 892-895.


GAUNT, W. Los Surrealistas. Barcelona: Labor, 1973, p. 95.


NÉRET, G. 30 ans d'art moderne: peintres et sculpteurs. Fribourg: Office du livre, 1988. 248p.: il., pp. 245.


RODRIGUEZ-AGUILERA, C. Picasso de Barcelona. Paris: Cercle d'Art - Marrast, 1975, p. 216.

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