Translate

Monday, January 13, 2014


 
BIOGRAFIA: GAN, Alexey Mikhailovich (1893-1942).
O artista se formou na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Depois da Revolucão Russa (1917), Gan se associou ao TEO/ Comissariado do Povo para a Educação (1918-1920) e foi membro do INKhUK - Instituto de Cultura Artística de Moscou, organizado pelo coronel Anatoly Lunacharsky (1920). Na época esse instituto estatal foi dirigido por Wassily Kandinsky (1866-1944).


 
Gan foi um dos principais membros do primeiro grupo Construtivista, do qual participaram Lyubov Popova (1889-1924), Alexander Rodchenko (1891-1956), Várvara Stepanova (1894-1958), Vladimir Tatlin (1885-1953), Karl Ioganson (1890-1929), os irmãos Sternberg, Georgy (1900-1933) e Vladimir (1899-1982), e Konstantin Medunetzky (1899-1935). O manifesto do Grupo C (C=Construtivismo) foi assinado por Gan, Popova, Stepanova e Tatlin (março, 1921). Alguns artistas participaram da mostra conjunta intitulada Os Construtivistas, com trabalhos ditos, de laboratório ou melhor, de forma pura, conforme se encontra citado (ALBERA, 2002: 167). A exposição apresentou obras de Gan, Rodchenko, Stepanova e Ioganson no Café dos Poetas (Moscou, jan., 1921). No ano seguinte Gan publicou seu livro Construtivismo (Konstrutivism, Tver, URSS, 1922); alguns trechos dessa obra se encontram traduzidos (GRAY, 1968: 55; e BANN, 1974: 49). Conforme citado (ALBERA, 2002: 168), a corrente Construtivista, trabalhando em prol da arte pura, foi considerada por Anatoly Anatolevich Strigalev (Art et Production, in Paris-Moscou, 1900-1930. Paris: Centre d' Art et Culture, 1979),

[…] como um método artístico que visa dar forma a objetos realmente funcionais […]

O Produtivismo foi adotado por Tatlin, Rodchenko, Popova, Ekster, Gan, Klutsis, Stepanova e os irmãos Sternberg, entre outros Construtivistas, definido como

 
[…] teoria sociológico-estética que prevê o impulso e domínio das artes vinculadas à produção de objetos realmente úteis […]

considerando a arte como forma particular de produção, teoria elaborada e promulgada por Bóris Arvatov (1896-1940), Osip Brik (1890-1967), Aleksey Gan (1892-1940), Bóris Kuchner (18xx-1919), Nikolay Tarabukin (1889-1956) e Sergey Tretiakov.
 
No entanto, esse engajamento dos artistas entre os mais destacados das vanguardas russas, dividiu seu espaço na mesma época com várias correntes diversas, algumas antagônicas, todas associadas a seu tempo e ao embate Construtivismo versus Produtivismo, que revolveu profundamente as entranhas da arte russa.
 
 
 
Depois da Revolução Russa formou-se o grupo considerado como da velha guarda, do qual participaram W. Kandinsky e Marc Chagall, sendo que, no primeiro momento, Kandinsky se tornou diretor do INKhHUK (Moscou) e Chagall diretor do Instituto de Arte e Técnica, ou seja, as VChTEMAS de Vitebsk, cargo que ele perdeu logo para Kasimir Malevich (1878-1935). O grupo considerado direitista, que incluiu Naum Gabo (1890-1977)e seu irmão Anton Pvsner (1886-1962), que partiram de Moscou com a dita, Exposição Internacional de Arte Russa que eles organizaram com outros vanguardistas, realizada na Galeria Van Diemenn (Berlim, 1922). Depois dessa mostra os irmãos Gabo e Pvsner jamais retornaram à URSS; e El Lissitsky (1890-1941), que também organizou várias mostras russas no Ocidente, inclusive a Imprensa (Pressa, Colônia, 1928); um grupo mais jovem, dito, esquerdista e mesmo, Anarquista, representado por V. V. Maiakowsky (1893-1930) e que incluiu o poderoso burocrata Osip Brik (V. Grupo KOM-FUT, abaixo). Brik foi quem conduziu os rumos da arte dos primeiros Construtivistas, inclusive Gan, na transformação deles em Produtivistas soviéticos e foi ele quem criou a plataforma que rejeitou a Arte Pura dos Construtivistas para transformá-la na Arte Aplicada à produção de objetos utlilitários tais como canecas cerâmicas, bules, chaleiras e desenhos para estamparia têxtil, entre outros.
 
 
A transformação mais significativa ocorreu na sessão que transferiu o INKhHUK/ Instituto de Cultura Artística do TEO/ Comissariado do Povo para a Educação, para o Conselho Superior da Economia Nacional, quando 25 artistas russos a assinaram, adotando o Produtivismo. Essa manobra política transformou os artistas plásticos em operários especializados: os que rejeitaram essa plataforma se inseriram em outras atividades produtivas, como Rodchenko, que se tornou fotógrafo, ou se exilaram no Ocidente, como Pvsner, Gabo, Chagall e Kandinsky, entre outros (c. 1922-1923). Segundo citado (ALBERA, 2002: 196, n. 19, Apud TARABULKIN, Nicolay. Do Cavalete à máquina. Moscou, 1923; trad. francesa: Le Dernier Tableau. Paris: Champ Libre, 1972, p. 147; ver também LODDER, Christina. Russian Construtivism. New Haven - London, Yale University Press, 1983, pp. 90-94), houve dificuldade de reconstituir a lista dos 25 signatários.
 

Gan foi próximo de artistas como Kasemir Malevich, Vladimir Tatlin e Alesandr Rodchenko e publicou vários textos na revista Anarkhia (Anarquia, Moscou, 1918). Gan publicou a revista de fotografia e cinema, Kino-Fot (Moscou, 1922), durante apenas um ano, mas que contou com a diagramação e a composição gráfica de Rodchenko, publicando colaborações dele e de Bóris Arvatov (1896-1940), Lev Kuleschov (1895-1960), Dziga Vertov (1896-1954), Vladimir Mayakowsky e Hyppolite Sokolov, entre outros vanguardistas. Quando a revista de Gan encerrou as atividades a revista editada por V. V. Maiakovski, com Brik no Conselho Diretor, a Lef (Moscou, 1923-1925), assumiu o posto de revista das vanguardas e abriu grandes espaços para o cinema e a fotografia, além de publicar os manifestos de D. Vertov e S. Eisenstein.
 
 
 
Gan organizou a Primeira Mostra-Debate da Arte Revolucionária (1924), quando rompeu com A. Rodchenko e V. Stepanova. Foi de Gan a organização da I Mostra de Cartazes de Cinema (1925) e ele se associou a OSA - União de Arquitetos Contemporâneos para a qual organizou a I Exposição Internacional de Arquitetura. Gan participou, juntamente com alguns artistas de vanguarda, da dita, Exposição Pan-Soviética de Poligrafia (Moscou, 1927).
 
 
Gan foi membro fundador do grupo vanguardista pluridisciplinar e internacional, Outubro (Oktiabr, 1928-1932), que congregou artistas alemães, mexicanos e russos de várias áreas, fundado pelo arquiteto alemão Alfred Kurella e pelos irmãos arquitetos russos Vesnin, Victor (1902-1950) e Aleksander Aleksandrovich (1883-1959). O grupo contou com a participação de artistas plásticos, cineastas e arquitetos russos, além de artistas plásticos estrangeiros como o mexicano Diego Rivera e conceituados artistas gráficos russos como Alexandre Deineka (1899-1969), Dmitry Moor (1883-1946) e Sergey Sienkin, cujas obras gráficas estiveram em exposição na mostra Gráfica Utópica Arte Gráfica Russa 1904-1942, inaugurada no CCBB (Brasília - São Paulo - Rio de Janeiro, 2002).
 
 
Apesar de ter trabalhado muito para a arte de seu país depois da Revolução Russa, Gan caiu em desgraça junto ao PC - Partido Comunista. Gan foi preso no final dos anos 1930 e morreu no campo de trabalho forçado (c. 1942), no período do dito, expurgo stalinista, implantado por Iósif Stalin. Duas capas de livros com desenhos Construtivistas de Gan, se encontram reproduzidas (LECLANCHE-BOULÉ, 1991).

REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 
 
ALBERA, F. Eisenstein e o construtivismo russo - A dramaturgia da forma em "Stuttgart". Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac e Naify, 2002, pp 167-168, 196, 210, 365.



BANN, S. The Tradition of Construtivism. New York: Viking Press, 1974, p. 65.



CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.;.WEBER, J. The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10May, 12992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 40-45.

 
GRAY, C. L. Avant-garde russe dans lart moderne 1863-1922. Lausanne: Editions De la Cité/ LÂge d Homme, 1968, p. 45.

LECLANCHE-BOULÉ, C. Le Construtivisme Russe: typographies et photomontages. Documentation Marc Martin-Malburet. Paris: Flammarion, 1991. 173p.: il., retrs., pp. 22, 61, 150. 

 

 

No comments: