Translate

Wednesday, January 29, 2014

BIOGRAFIA: RODCHENKO, Aleksandr Mikailovich (1891-1956).



BIOGRAFIA: RODCHENKO, Aleksandr Mikailovich (1891-1956).



O artista Construtivista russo, pintor, artista gráfico, fotógrafo e cenógrafo teatral e cinematográfico, nasceu em São Petersburgo, no seio de família de modestos recursos: seu pai foi o encarregado de guarda-roupa de teatro da província. Rodchenko foi viver em Kazam com sua família, onde estudou e conheceu sua futura esposa, a artista Várvara Stepanova, na Escola de Belas Artes (1911-1914). Rodchenko conheceu artistas moscovitas, na dita, vigília Futurista, organizada em Kazam por David Burliuk (1882-1967), Vladimir Maiakovsky (1893-1930) e Vasily Kamensky (1884-1961). Rodchenko foi viver em Moscou, onde frequentou a Escola Central de Estética Industrial Stroganov: este foi um dos redutos das vanguardas russas, as quais ele logo se associou. O artista foi convidado por Vladimir Tatlin (1885-1953) e suas obras participaram da mostra coletiva O Armazém (1916), que Tatlin organizou, onde Rodchenko conheceu Kazimir Malevich (1878-1935). Nessa exposição o artista apresentou pela primeira vez 06 desenhos executados com régua e compasso, além de uma de suas Colagens Pré-Construtivistas.



Rodchenko participou da organização da União Profissional de Artistas e da primeira mostra do grupo (Moscou); o artista trabalhou em conjunto com V. Tatlin e Georgy Bogdanovich Yaculov (1884-1928) no projeto e na execução de pinturas modernas que decoraram o Café Pittoresque (Moscou, 1918). Como Tatlin, Rodchenko trabalhou a seguir para o governo russo, na IZO Narkomprós (1918-1919; v. abaixo), onde, em conjunto com Olga Rozanova (1886-1918), reorganizou os ateliês de Arte Industrial. Posteriormente Rodchenko dirigiu o departamento dos MCA - Museus de Cultura Artística.


 
Rodchenko expôs na sua primeira mostra individual, Cinco Anos de Criação (1918), no Clube Federação das Esquerdas; suas obras participaram da V e da X Mostra Estatal (1919), nas quais ele expôs suas obras ditas, de Arte Não Objetiva, então influenciadas por K. Malevich que tinha iniciado o grupo Supremus, do Suprematismo - o Novo Realismo Pictórico. As obras de Rodchenko evoluiram conceitualmente e o artista passou a apresentar sua pintura da fase monocromática negra, como Negro sobre Negro (1918), que, décadas mais tarde influenciaram as primeiras obras do artista norte-americano Robert Rauschenberg. Rodchenko expôs esculturas totalmente brancas, bem como suas primeiras colagens tipográficas e pinturas lineares, bem como suas primeiras construções modulares, estas executadas em madeira pintada. Na época estabeleceu-se a forte rivalidade entre K. Malevich e A. Rodchenko, que disputavam a primazia na arte das vanguardas russas. Obras de ambos participaram da importante mostra coletiva O;10, Última Exposição Futurista (1919), na qual Malevich expôs sua obra Branco sobre branco, a qual Rodchenko respondeu com a Anti-Arte de sua pintura, Negro sobre Negro (1918).



Rodchenko realizou esculturas inovadoras com construções suspensas (1920); o artista assinou o manifesto do Construtivismo sovietico, juntamente com Alexandre Archipenko (1887-1964), El Lissitzky (Lazar Marcovich, 1890-1941), os irmãos Naum Gabo (1890-1977) e Anton Pevsner (1886-1962), Arshille Gorky, Vladimir Tatlin e Wladislas Strzheminsky (1893-1958), lançado em Moscou (08 mar., 1920). Posteriormente Gorky emigrou para os Estados Unidos, onde tornou-se expoente no Expressionismo Abstrato; Archipenko destacou-se como escultor nas vanguardas parisienses e Strzheminsky tornou-se expoente das vanguardas polonesas.


 
 Obras de Rodchenko participaram da XIX Mostra Estatal (Moscou); da coletiva III Mostra do Congresso dos Komintern. O artista tornou-se o protegido do importante burocrata e escritor Osip Brik (188-1945), membro do Presidium do INKhUK- Instituto para a Cultura Artística (v. abaixo). Rodchenko ascendeu rápidamente dentro das novas estruturas politizadas da arte, nos cargos do governo soviético, que, na época, favorecia a ascensão dos artistas-proletários. Rodchenko sucedeu a Wassily Kandinsky (1866-1944), que emigrou, no Comitê Diretor dos MCA - Museus de Cultura Artística (v. abaixo), que organizou 25 museus de arte nas províncias por todo o país (1920-1921). Rodchenko tornou-se membro fundador do Primeiro Grupo de Trabalho dos Construtivistas, que lançou seu novo manifesto assinado por Alexei Gan (1892-1940), Lyubov Popova (1889-1924), sua esposa Várvara Stepanova (1876-1958) e Vladimir Tatlin, entre outros (Moscou, mar., 1921). Brik buscava transformar os artistas soviéticos em Produtivistas: ele encarregou Rodchenko de criar a teoria que permitiria a transformação dos artistas plásticos vanguardistas em artistas ditos, Proletários, verdadeiros operários Produtivistas, que passariam a executar suas obras, não nos tradicionais meios das Artes Plásticas, mas sim na Arte Aplicada a produtos industriais como cerâmicas, estamparia têxtil e modelos de uniformes operários.


 
Na estética da transformação, estrutura e funcionalidade, Rodchenko criou desenhos aplicados à decoração sobre porcelana, mobiliário e decorações. Rodchenko tornou-se professor e ensinou a disciplina do Grafismo, na Escola do PROLETKULT/ Organização Proletária para a Cultura e Instrução (Moscou, 1921-1923). Rodchenko ensinou Construção, nos Ateliês Superiores de Arte e Técnica [VKhUTEMAS], onde, no início da década de 1920, foram professores do curso básico, obrigatório para todos os estudantes, independentemente da especialidade escolhida posteriormente, Lyubov Popova (A máxima influência da cor); Alexander Osmerkin (Forma através da cor); Aleksandra Ekster (Cor no espaço); Ivan Kliun (Cor no plano); Alexander Drevin (Simultaneísmo de forma e cor), e sua esposa, Nadezhda Udaltsova (Volume no espaço); e Wladimir Baranoff-Roussiné (Tutela), artista que emigrou e tornou-se conhecido na França como Daniel Roussiné (1888-1944?).




As obras de Rodchenko participaram da mostra 5 x 5 = 25, onde o artista expôs pinturas monocromáticas. A mostra reuniu cinco obras de cinco artistas, entre esses Aleksandra Ekster. Na época Rodchenko projetou os quiosques estatais destinados à venda de jornais e revistas; ele criou a cenografia para a peça Percevejo [Klop] (1920), de V. V. Maiakovsky e organizou o projeto de cenografia teatral para Nós [My] (1920), de E. I. Zamiatin, no estúdio moscovita do PROLETKULT - espetáculo não encenado.



O artista colaborou com a encenação de Inga (1920), de P. Glebov, no Teatro da Revolução (Moscou, 1929); suas obras cenográficas participaram da Mostra de Arte Cenográfica Teatral (Moscou, 1918-1923). Como artista gráfico Rodchenko ilustrou o volume de poesias Para Ela [Pro Eto] (1922), de autoria de V. Maiakovsky, quando utilizou a técnica de Fotomontagem (v. abaixo): ele foi o primeiro à introduzí-la na União Soviética. Os originais desta obra vieram ao Brasil e estiveram em exposição na mostra coletiva Arte Utópica, Arte Gráfica Russa, 1904-1942, no CCBB (Rio de Janeiro, 2002); suas reproduções encontram-se publicadas no catálogo da mostra.


 
Rodchenko artista divulgou seu Primeiro Manifesto Produtivista (1922) e, no mesmo ano participou com várias obras da I Mostra Internacional de Arte Russa realizada na Galeria Van Diemenn (Berlim). Foi através da organização desta mostra que vários artistas das vanguardas russas encontraram a oportunidade sair da U.R.S.S. e de voltar à viver no Ocidente: na ocasião, saíram do país os Construtivistas Naum Gabo e seu irmão Anton Pvsner, David Burliuk, bem como W. Kandinsky e Marc Chagall.



Rodchenko ensinou nas VChUTEMAS, no Ateliê do Trabalho de Madeira e Metal, época em que executou suas primeiras obras gráficas em tipografia Construtivista, além de várias fotomontagens criativas (1923-1930). Os artistas criaram o grupo LEF/ Frente Esquerdista das Artes (1924-1930), centrado sobre a obra escrita e a forte personalidade de Maiakovsky. Rodchenko produziu fotografias, publicadas na revista do grupo, a Lef/ Frente Esquerdista das Artes (1924- 1927), editada por V. Maiakovsky e Osip Brik. Obras de Rodchenko participaram da representação russa enviada à Bienal de Veneza (1924). Rodchenko recebeu quatro medalhas de prata devido a seu projeto do Clube do Trabalhador, inclusive com desenho de mobiliário e interiores, apresentado na Exposição das Artes Decorativas e Industriais Modernas, conhecida como Exposição Universal (Paris, 1925). Rodchenko formou dupla com Maiakovsky, sempre amigo: ele desenhou várias capas para os livros de Maiakovsky: Para Ela [Pro Eto]; Paris [Parij] (1925); Minha Descoberta da América [Moe'Otkrytie'Amerik] e Conversação com um Inspetor de Finanças sobre a Poesia [Rzagovor c Finispektorum o Poezii] livro que Maiakovsky lançou em Tiflis (Geórgia, 1926); e Ida e Volta [Touda i obrano] (1930). Entre suas inúmeras obras nas Artes Gráficas soviéticas, Rodchenko criou as capas das revistas Mis Mend e Novy Zritel [Novo Espectador] (1926) na técnica de fotomontagem e também a capa para o livro Teng-Xsi-hua, de Sergey Tretiakov (Moscou, 1930). O grupo se dispersou devido ao suicídio de Maiakovsky (Moscou, mar., 1930), pelo qual Rodchenko culpou-se durante prolongado período, achando que poderia ter evitado a perda de seu amigo.



Rodchenko colaborou como jornalista fotográfico para as revistas Sovietskoe Foto [Fotografia Soviética]; Sovietskoe Kino [Cinema Soviético]; Kino-Foto [Cine-Foto] e Ogniok; Novy L.E.F. [Nova Frente Esquerdista para as Artes]; Journalist [Jornalista], entre outras publicações. O artista realizou vários projetos associados à indústria cinematográfica e tornou-se diretor de arte de vários filmes experimentais para o cinema estatal soviético, Kino Pravda [Cinema Verdade]. Rodchenko criou a cenografia para os filmes A Boneca Milionária [Kukla s millionami]; Moscou em Outubro (Barnet) e Jornalista [Zurnaliskta], de Lev Kuleschov (1895-1960).
 
 




 

Rodchenko tornou-se um dos organizadores do Grupo Outubro [Oktiabr] (v.), que começou durante a realização do FIFO - Festival do Filme e Fotografia (Stuttgart, Alemanha, 1929), com a participação de artistas plásticos como Diego Rivera (México) e de cineastas como Sergei Eisenstein e Esfir Schub. O grupo expôs suas obras em mostra coletiva, com a participação das fotografias de Rodchenko (Moscou, 1930). O artista continuou trabalhando como fotógrafo e realizou, conjuntamente com sua esposa Várvara Stepanova, álbum com fotografias em homenagem a URSS; para tal, o artista viajou por todo o país. Obras de Rodchenko participaram de mostras de Fotografia e Arquitetura (1936-1956). O artista executou composições tipográficas no desenho de cartazes; direção de arte para o cinema; cenografia, tanto para o cinema bem como para teatro. Apesar de toda esta brilhante carreira, Rodchenko faleceu em relativo ostracismo (Moscou).



A estética da arte Construtivista de Rodchenko marcou, indelevelmente, a moderna imagem da nova Rússia Revolucionária: sua arte esteve profundamente associada à concepção estética de vanguarda, na arte do século XX. Foram obras gráficas de Rodchenko suas capas para a revista Lef (1923-1925, 15,5 x 23,5 cm) e para Novy Lef (1927-1928); foi de sua autoria o cartaz para o filme O Encouraçado Potemkin, de S. Eisenstein; a capa para o livro Syfilis (1926, 13 x 17,5 cm), de autoria de V. Maiakowsky; as fotomontagens de seu Auto-retrato (1922, Universidade de Oxford) e A Crise; todas as obras citadas se encontram reproduzidas (LECLANCHE-BOULÉ, 1991). A fotografia de Rodchenko, a decoração dos interiores do Café Pittoresque (Moscou) e de sua obra Construção Suspensa (1920-1921, aluminio), encontram-se reproduzidas (RAGON, 1992).


 
 
REFERÊNCIAS SELECIONADAS:
ALBERA, F. Eisenstein e o construtivismo russo - A dramaturgia da forma em "Stuttgart". Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac e Naify, 2002, pp. 36-38.

 
CATÁLOGO. ATTI, F. C. degli; FERRETTI, Daniela (Org.). Rusia, 1900-1930, L'Arte della Scenna. Milano: Galeria Electa. Moscou: Museu Bachrusín, 1990, p. 158.
 
 
 
 

CATÁLOGO. Cinema Revolução a Produção Russa de 1925 a 1946. Rio de Janeiro: CCBB, 26 fev. - 06 mar., 2002.

 

CATÁLOGO Cinema Russo e Soviético da Cinemateca Brasileira. São Paulo: Manifestações Cinematográficas da VI Bienal de São Paulo do Museu de Arte Moderna, 1961/2, com a colaboração do Gosfilmofond (Cinemateca da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

 
CATÁLOGO. KRENS, T.; GOVAN, M.; GUSEV, V.; PETROVA, E.; KOROLEV, I. WEBER, J.; GRASSNER, H.; LODDER, C.;.WEBER, J. The Great Utopia: The Russian and Soviet Avant-Garde, 1915-1932. Shirn Kunsthalle, Frankfurt: 01-10May, 12992. Stedelijk Museum, Amsterdam; Salomon R. Guggenheim Museum, New York. New York: Salomon R. Guggenheim Museum, Rizzoli, 1992, 732 p.: il., pp. 03, 06, 16, 21.

DICIONÁRIO.SEUPHOR, M. Dictionaire de la peinture abstraite: precédé d´une histoire de la peinture. Paris: Fernand Hazam, 1957. 305p.: il., p. 253.


LECLANCHE-BOULÉ, C. Le Construtivisme Russe: typographies et photomontages. Documentation Marc Martin-Malburet. Paris: Flammarion, 1991. 173p.: il., retrs., pp. 24, 25, 32, 39, 44, 70, 152.


LÉVÊQUE, J-J. Le triomphe de l'art moderne: les Anées Folles. Paris: A. C. R. Éd. Internationalles, 1992. 624p.: il., retrs., p. 260.

 
 
RAGON, M. Journal de l´Art Abstrait. Genève: Skira, 1992. 163p: il., p. 19. 

No comments: