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Saturday, March 17, 2012

SEXTA PARTE DA HISTÓRIA DOS BALÉS RUSSOS [BALLETS RUSSES], DA CIA. TEATRAL SERGEI PAVLOVICH DIAGHILEV (Paris, 1909-1929).


Picasso tornou-se cenógrafo e figurinista para os Balés Russos [Ballets Russes], de Sergei Diaghilev (1872-1929), e realizou a cortina do palco, os cenários e figurinos para o dito, Balé Realista de Pablo Picasso, Parada [Parade] (1917), com libreto de Jean Cocteau (1885-1963), música de Eric Satie (1866-1925) e coreografia de Léonid Massine (1894-1979), que estreou no Teatro do Châtelet (Paris, 18 de maio, 1917).

Posteriormente Parada [Parada] foi apresentado com Olga Lynn e a orquestra da BBC de Londres sob a regência do maestro Pedro Morales (24 abr., 1931). A primeira performance londrina com narrador foi apresentada com Sarah Lawrence e a Orquestra Sinfônica de Wimbledon, sob a regência do maestro Kenneth V. Jones, no Town Hall (Londres, 25 maio, 1965). A música foi publicada (CHESTER, 1921).
Diaghilev convidou Picasso para criar os novos cenários e figurinos para o balé de tema Espanhol, O Tricórnio [Le Tricorne] (1918), baseado no antigo texto de Pedro de Alarcón, com música de Manuel de Falla. Picasso tinha conhecido a bailarina Olga Koklova, om quem ele casou, e partiu para Londres (set., 1918), acompanhado por André Derain (1880-1954).

A decoração cenográfica de Picasso para O Tricórnio foi inspirada nos cânones Cubistas e sua maquete original encontra-se no Museu da Ópera (Paris). Esse balé, pode ser considerado como moderno, mas não tem nada de revolucionário como o primeiro balé citado, Parada [Parade] (1917). Durante três meses Picasso dedicou-se à criação dos cenários e figurinos desta obra espanhola, que estreou com imediato sucesso no Teatro Alhambra (Londres, 1918). O Cubismo cenográfico de Picasso em O Tricórnio, ficou reduzido apenas a algumas paredes inclinadas no casario do cenário. Os figurinos foram verdadeira festa de cores e a cortina de cena foi simplificada, mostrando o casario tradicional espanhol em perspectiva com céu noturno estrelado visto através do arco da ponte.

A música de Manuel de Falla contribuiu bastante para o sucesso do espetáculo: o músico introduziu sons de palmas, sonoros olés, castanholas, além de duas breves aparições de cantora que, apresentou através da voz, curtas canções O dia e A noite. A música de Manuel de Falla, alegre e animada, verdadeira festa musical, foi apresentada com a regência de Roberto Minzuk e a OSESP, na Sala São Paulo (abril, 2004). Falla compôs mais tarde duas suites para o balé El sombrero de tres picos: a suite da primeira e uma outra, da segunda parte. A primeira música apresentou: 1. Introdução; 2. Tarde; 3. Dança da mulher do moleiro (Fandango); 4. As uvas; e a segunda parte apresentou 1. A Dança do Vizinho (Seguidillas); 2. A Dança do Moleiro; 3. A Dança do Corregedor; 4. Dança Final. Esta segunda parte foi apresentada com a Orquestra Municipal de Bourmemouth, sob a regência de Sir Dan Godfrey. As duas partes das novas músicas foram publicadas (CHESTER).

A idéia de Sergei Diaghilev de criar balé baseado na Commedia del'Arte italiana, inspirado em manuscrito do século XVIII, que contava a história de quatro polichinelos parecidos. Surgiu assim o balé Polichinelo [Pulcinela] (1919), novamente com a cenografia e figurinos de Picasso, que inspirou-se nas decorações barrocas do teatro italiano. O artista começou desenhando cenários formais que Diaghilev detestou, até que Picasso simplificou-os, agradando ao exigente empresário. O cenário terminou apresentando desenho de casario Cubista em perspectiva profunda, que mostrava ao fundo a lua cheia sobre o mar calmo onde flutuava embarcação à vela; no primeiro plano, Picasso criou falso Proscenium, desenhado de forma gráfica e multicolorida, obtendo efeito moderno para o clima geral de inspiração romântica. Picasso criou o figurino para o Polichinelo, personagem alto e gordo vestido com roupas simples de cores claras, com blusão largo com mangas bufantes e calças amplas também bufantes e da mesma cor, levando na cabeça chapéu alto e pontudo. Os desenhos dos costumes foram simplificados, mas funcionaram, apresentando no palco imenso vigor cênico.

A trama complicada do balé Polichinelo [Pulcinela] (1919), mostrou a separação de amantes, intriga amorosa, pais tirânicos, com toda a trama chegando a final feliz devido a interferência do Polichinelo. A coreografia foi de Michel Fokine (1881-1942) e a música foi adaptada por Igor Stravinski (1882-1971) das partituras de antigo compositor napolitano, Pergolesi, que Diaghilev escolheu como tema do balé. Em um ato e oito cenas a música apresentou canções criadas para soprano, tenor e baixo solistas. O impacto da música foi tamanho que permaneceu na Europa durante uma década. Os bailarinos escolhidos por Diaghilev foram russos: Tamara Kasarvina, Lubov Tchernicheva, Vera Nemtchinova, Leonid Massine, Tadeusz Idzikovski, Nicolas Zverev; e a única exceção, Enrico Cechetti. No dia da estréia do balé, Diaghilev não estava satisfeito, nem com os figurinos de Picasso, nem com a adaptação musical de Stravinsky: mas o balé conheceu grande sucesso, à partir da estréia (Paris, 15 maio, 1918).

Nessa fase depois da I Guerra Mundial, faltavam recursos para grandes produções. Diaghilev encontrou pequena troupe de dançarinos ciganos e cantores em Sevilha, que contratou para se apresentarem no balé Quadro Flamenco [Cuadro Flamenco] (1920). Nessa ocasião, a temporada parisiense dos Balés Russos era de apenas uma semana, a ser realizada no pequeno teatro parisiense afastado, chamado de Gaieté-Lyrique. Dois balés estrearam na mesma noite: O Bufão [Le Chout], com a temática de como um Bufão, dançado por Tadeuz Slavinski, enganou sete outros. O Quadro Flamenco, estreou com música de Sergei Sergeevich Prokofiev (1881-1953), cenários e figurinos de Picasso para o qual o artista desenhou ambiente simples e elegante, que agradou ao público. A música, apresentada com dois guitarristas espanhóis e troupe dos bailarinos espanhóis, dispostos em semi-círculo de acordo com as tradições espanholas, postados na frente da pintura de Picasso para a cortina de cena. Depois da estréia em Paris, o balé partiu para ser apresentado no pequeno Prince's Teather (Londres), pertencente a C. B. Cochrane, onde foi aplaudido pelo Rei da Espanha.

O balé O Trem Azul [Le Train Bleu] (1924), com libreto de Jean Cocteau, com cenários luxuosos, marqueteries assinadas por René Prou e acessórios de René Lalique, partiu de Paris na direção da Côte d'Azur. Os viajantes ávidos de prazeres, esperavam ansiosos a visão da terra prometida, as praias do Mediterrâneo. A cenografia do Trem Azul foi de Henri Laurens (1885-1954). O artista evocou, através do desenho das cabines, construções moderníssimas, derivadas da fase do Cubismo dito, Sintético. Essa praia seria invadida por turba delirante e numerosa em costumes de banho criados por Mademoiselle Chanel: ela lançou a moda da malha (jersey) para as roupas de banho e esporte, usando listras de cores vivas em linhas no estilo de figurinos.

Picasso pintou somente a cortina de cena, que reproduziu seu quadro Duas mulheres correndo sobre a praia [Deux femmes courant sur la plage], mas parece que foi convidado na última hora. Cocteau conhecia a costa e o mar e Massine soube seduzir o público com a coreografia que incluía proezas de ginástica e malabarismos. Da praia o tema do balé partiu para esportes sofisticados, como tênis; Chanel vestiu Bronislava Nijinska (1891-1972), irmã de Vaslav Nijinski (1889-1950) com costume esportivo branco, sapatos, meias-calça e camisa de malha esporte, até hoje figurino de conhecida grife francesa de roupas esportes. O figurino de Anton Dolin, o bailarino inglês estrela da apresentação, foi camiseta sem mangas e short de malha mescla; e, a bailarina Lidia Sokolova vestiu costume semelhante em outra cor. O balé O Trem Azul colocou na praia, ao mesmo tempo mais de vinte bailarinos em cena. O argumento de Jean Cocteau, que trabalhou com a coreógrafa Bronislava Nijinska, deveria ser dançado com música leve, frívola e divertida.

Diaghilev contratou Darius Milhaud, que estava escrevendo a música de Salada para os Balés do Conde de Beaumont, mas que aceitou escrever, ao mesmo tempo, a música de Le Train Bleu para os Balés Russos. A música foi apropriada para o espetáculo divertido que Cocteau produziu: a fanfarra composta por George Auric anunciou o espetáculo e a aparição do soberbo desenho de Picasso no pano de cena, foi a obra escolhida para ilustrar o programa. O balé estreou no Teatro dos Campos Elísios e conheceu imediatamente grande sucesso (20 de junho, 1924).

Sexta Parte: v. as biografias dos artistas e músicos europeus participantes dos Balés Russos, no meu Blog:

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