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Friday, May 23, 2014

BIOGRAFIA: MEYERHOLD, Vsevolod Emilovich; Karl Theodor Kasimir Meiergold (1874-1942).





BIOGRAFIA: MEYERHOLD, Vsevolod Emilovich; Karl Theodor Kasimir Meiergold (1874-1942).


 
 O artista, ator, professor e diretor teatral nasceu em Penza, no seio de familia numerosa, com oito filhos; seu pai mantinha a prole com destilaria de alcool. Meyerhold naturalizou-se russo (1895), e na época, mudou seu nome; o artista estudou no Liceu de Penza, quando e onde começou a atuar no teatro. Meyerhold estudou Direito, mas logo abandonou a carreira para dedicar-se somente ao teatro. Meyerhold foi admitido no Instituto Musical e Dramático da Sociedade Filarmônica (Moscou, 1896): nesse local formou-se o primeiro grupo de atores do futuro teatro fundado por ele, o MChAT - Teatro de Arte (Moscou, 1898).

 
O ator e diretor teatral instalou teatro na cidade armênia de Tiflis (hoje Tibilisi, capital da Geórgia, 1904-1905). No entanto, o diretor foi obrigado a enfrentar censura, quando impediram-no de encenar O Inimigo do Povo, peça de Henryk Ibsen (1828-1906) e Os Estivadores, de Maksim Gorki (1868-1936). O artista voltou para Moscou, onde, apoiado por Konstantin Stanislavsky (1863-1938), fundou o Primeiro Estúdio do Teatro de Arte de Moscou [Pervaja studja MChAT - Moskovskyi chodozestvennyi teatr], conhecido como MChAT - I (Moscou, 1905). A escola esteve voltada para o ensino das técnicas e atuação teatral. Meyerhold encenou para seleta audiência, composta de artistas e escritores vanguardistas, a peça A Morte de Tintagiles, de Maurice de Maeterlinck; mas o teatro foi obrigado a fechar suas portas. Meyerhold viajou para São Petersburgo e passou por Tiflis, excursionando com sua companhia teatral (1906); na época, o diretor reencenou A Morte de Tintagiles, entre outras peças importantes com temática social, de autores censurados na Rússia como Gerhart Hauptmann, Ibsen e Gorki.

A conhecida atriz Vera Kommissarjevskaia (1864-1910), que mantinha seu próprio teatro onde atuou o ator Anatoly P. Nelidov, que, mais tarde, se tornou diretor do Teatro Pushkin (Leningrado), propôs que Meyerhold trabalhasse para seu teatro.No teatro de Kommissaryevskaia, instalado na cidade onde viviam o Czar e a nobreza russa, o diretor encenou a Irmã Beatrice, de Maurice de Maeterlinck; A Barraca da Feira (1906), peça lírica de Alexandre Blok (1880-1921), apresentada com cenários do pintor Nicolay N. Sapunov (1880-1912), que também foi, no mesmo ano, cenógrafo de Hedda Gabler, de Henryk Ibsen, dirigida por Meyerhold; no mesmo ano (1907), ele encenou a A Vida do Homem, de Leonid Andreiev (1871-1919), entre várias outras peças como as do polêmico ator e teatrólogo alemão Frank Wedekind (1864-1918), e outra peça de Fyodor Sologoub (1863-1927).

 
Surgiram desentendimentos entre Meyerhold e Vera Kommissaryevskaia, que não queria mais encenar peças Simbolistas. Meyerhold aceitou cargo no Teatro Imperial, onde permaneceu durante 10 anos (São Petersburgo, 1908-1918). O diretor atuou no Teatro Aleksandrinsky, que situava-se na Praça Aleksandrinska e que depois se transformou no Teatro Acadêmico Estatal Pushkin; e Meyerhold também trabalhou para o Teatro Mariinsky (1908-). Na primeira encenação de No seio do Reino, de Knut Hamsun (1859-1952), Meyerhold atuou como ator principal; o diretor encenou a ópera de Richard Wagner 1813-1883), Tristão e Isolda (1909), que obteve grande sucesso entre a nobreza russa. Meyerhold encenou Don Juan (1910), peça de Molière (Jean Baptiste Poquelin, 1622-1673), com cenários de Alexandre Golovin (1863-1930); a ópera Orfeu e Eurídice (1911), de Glück (Christoph Willibald Glück, 1714-1787); e Electra (1913), de Richard Strauss (1864-1949).

 
O artista publicou seu livro Do Teatro e fundou seu Teatro Estúdio (1913-1917), além de montar seu primeiro balé, Pisanello ou A Morte Perfumada, com cenários e figurinos de Léon Bakst (1866-1924) e coreografia de Michel Fokine (1880-1942), libreto de Gabrielle D'Annunzio (1863-1938), especialmente para a bailarina russa Ida Rubinstein (1895-1960) dançar, que Meyerhold encenou no Teatro Chatêlet (Paris, 1913). Nessa viagem à França o diretor russo conheceu intelectuais e escritores das vanguardas francesas, como Paul Fort (1872-1960) e o mecenas Jacques Rouché (1862-1957); ele assistiu palestra do Futurista italiano F. T. Marinetti (1876-1944). Meyerhold voltou à Rússia: no novo estúdio encenou a primeira farsa O Amor das Três Laranjas (1914), que transformou-se, dois anos depois, em revista teatral (1916); ele encenou o Bal Masqué (Baile de Máscaras, 1917) de Mikhail Lermontov (1814-1841); e, no ano seguinte, reencenou O Mistério Bufão (1918) de V. V. Mayakovski (1893-1930), com figurinos do autor.
 
 
A Revolução Russa mudou os rumos da vida de Meyerhold: o diretor imediatamente aderiu à mesma, colocando-se à serviço dos novos líderes. Meyerhold assumiu o posto de Comissário Vermelho, sendo-lhe atribuídas novas responsibilidades  políticas e sociais, à serviço da revolução do proletariado. Meyerhold tornou-se Diretor do Comissariado Popular Para a Educação [NARKOMPROS - NARODNY KOMISSARIAT PO PROSVESCENYU], fundado em Moscou (nov., 1917-). E, com apoio estatal, fundou em um prédio em ruínas o teatro RSFSR-1: esse teatro se fundiu, dois anos depois, com o Teatro K. N. Nezlobin e ficou conhecido como o Teatro Meyerhold. A primeira récita foi do espetáculo Les Aubes [As Auroras], do belga Émile Verhaeren (1855-1916), que Meyerhold e Valeri Bebutov adaptaram, a fim de atender à propaganda política do novo regime (nov., 1920). No ano seguinte Meyerhold reencenou a segunda versão de O Mistério Bufão, de Maiakovsky, quando o diretor organizou o Estágio Avançado da Oficina de Diretores (1921). O futuro cineasta Sergei Eisentein (1898-1948) tornou-se seu aluno, até que o mesmo começou a trabalhar como diretor independente no Teatro do PROLETKULT (1923).

 
O movimento do Construtivismo soviético nas artes cênicas, colaborou com a cenografia e figurinos da peça O Cuco Magnífico (abr., 1922), de Fernand Crommelynck (1886-1970), encenada com cenários de Lyubov Popova (1889-1924). A fotografia dessa montagem cenográfica se encontra reproduzida no catálogo da mostra A Grande Utopia [The Great Uthopia] (Museu Salomon R. Guggneheim, Nova York, 1994). Meyerhold utilizou sua nova técnica da biomecânica corporal: nessa fase, todos os aspectos da produção teatral ficavam subordinados ao fluxo econômico do espetáculo, inserido no modelo das novas e rápidas transformações da sociedade soviética. Na nova filosofia de trabalho os atores vestiram macacões de sarja azul e evoluíram em cena com a precisão mecânica dos robôs, na farsa teatral mecanizada, apenas compensada pelo burlesco da comédia.


 
Meyerhold conseguiu ter seu próprio teatro, o TIM (1923), onde encenou A Floresta [La Forêt] (1924), de Alexander Ostrowski (1823-1886); O Mundano [Le Mondot] (1925) e O Inspetor Geral [Revizor] (1926), de Nikolai Gogol (1809-1852); ele encenou peça (1928) de Alexandr Griboiedov (1795-1829) e duas peças de V. Maiakovsky (1930; 1931), entre outras. Meyerhold realizou outra turnê parisiense (1930); posteriormente, ele encenou a Dama das Camélias (1934), baseada no drama de Alexandre Dumas Filho (1824-1895). O diretor russo também encenou ópera de Tchaikovsky (1935).

Na década de 1930 o poder de Iósif Stalin qualificou os espetáculos de Meyerhold de estranhos ao Realismo Socialista Soviético. O diretor foi violentamente atacado, tanto que foi obrigado a oferecer seu Mea Culpa públicamente, fato que não modificou sua difícil situação face ao regime soviético (1936). Depois de pronunciar discurso radiofônico (jun., 1939), na época do grande expurgo sovietico, Meyerhold foi preso. O diretor teatral foi torturado e condenado à morte como Trotskista, espião inglês e japonês. O regime soviético fuzilou Meyerhold (02 fev., 1940); sua mulher, a atriz Zinaida Raih (ou Reich, 1894-1939), foi brutalmente espancada e assassinada. A obra do diretor russo ficou escondida durante décadas, coberta pelo véu da censura, no mais negro e profundo ostracismo. Declarou Herbert Marshall, no prefácio de Memórias Imorais, uma Autobiografia, sobre seu mestre Sergei Eisenstein, autor do livro citado:


[…] Somente em três passagens de sua autobiografia ele se solta. A primeira é quando revela o pesar que sente pelo destino de seu amado mestre, Vsevolod Meyerhold (que, na época em que ele escrevia era considerado uma "não pessoa"). Eis o seu testemunho:
[…] Devo dizer que jamais amei, idolatrei, venerei alguém tanto quanto o meu professor e até a mais extrema velhice considerar-me-ei indigno de beijar o pó de seus pés […] (Eisenstein).
 

Continua Marshall:
 

[…] Meyerhold ainda era "inimigo do povo": todas as suas obras foram proibidas, seu teatro fechado; todas as informações a seu respeito foram suprimidas das enciclopédias e obras de referência; o novo teatro por ele projetado recebeu o nome de "Sala de Concertos Tchaikovsky"; sua mulher foi brutalmente assassinada e o próprio Meyerhold morreu nas celas da KGB. Então, na era de Krutchev, ficou-se sabendo que o arquivo de Meyerhold não tinha sido destruído pela KGB, conforme todo o mundo supunha, mas foi escondido por Eisenstein e por Pera Attacheva na sua dacha, ficando assim preservado para a posteridade. Era um ato de coragem, na era de Stalin.[…].

Pera, a dedicada esposa de Eisenstein, preservou seus escritos e publicou póstumamente o citado livro de memórias que o cineasta russo escreveu durante seu período de convalescença, depois do primeiro infarte sofrido (fev., 1946). A fotografia de Eisenstein (1926), de Pera (1934) e duas fotos de Meyerhold, bem como a fotografia do diretor dando aula para uma dúzia de alunos, se encontram publicadas no livro Memórias Imorais, Uma Autobiografia, de Sergei Eisenstein, prefáciado por seu aluno Marshall, com a ajuda imprescindível de Pera Attacheva (1900-1965), que conseguiu preservar o manuscrito intacto.

 
A fotografia de Meyerhold com sua mulher, Zinaida Raikh (1932), entre várias fotografias de identidade do arquivo de sua obra Investigação Criminal (1939), bem como as fotografias de pequeno grupo com Meyerhold, Maiakovsky, Alexander Rodchenko e o músico Dimitri Shostakovsky, que musicou filmes das vanguardas russas (Pudovkin, etc.), se encontram publicadas no catálogo da mostra Gráfica Utópica, Arte Gráfica Russa 1904-1942, realizada no CCBB - RJ (2002). Depois da morte de Stalin (1953), em meados da década de 1950, a memória de Vsevolod Meyerhold foi reabilitada na Rússia.


REFERÊNCIAS SELECIONADAS:

 
ENCICLOPÉDIA. CASSOU, J.; BRUNEL, P.; CLAUDON, F; PILLEMONT, G.; RICHARD, L. (Col.). Petite Encyclopedie du Symbolisme: Peinture, Gravure et Sculpture, Littérature, Musique. Paris: Somogy, 1988, 315p.; il, pp. 266-267.

EISENSTEIN, S.; MARSHALL, H. (Edição e Pref.). Memórias Imorais, uma Autobiografia. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de. Moura. São Paulo: Companhia das Letras, 1983, pp. 128, n. 9-12,
 
ENSAIO. MARSHALL, H. Apud EISENSTEIN, S. Memórias Imorais, uma Autobiografia. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de. Moura. São Paulo: Companhia das Letras, 1983, p. 14.

 
SALLES, E. Gráfica Utópica. Arte Gráfica Russa, 1904-1942. Tradução de Paulo Cypriano. Rio de Janeiro: CCBB, 2002, p. 171.

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